domingo, 22 de dezembro de 2013

Michael Laudrup, o Mago Dinamarquês

Faz um bom tempo que eu não posto nada. Queria pedir desculpas pela falta de postagens, não está fácil achar tempo para escrever. Garanto que nunca tive a intenção de abandonar o blog, mas estava difícil arrumar tempo para escrever.

"Apenas corra, ele vai encontrar um jeito de passar para você". Essa orientação dada por companheiros de time de Laudrup a outro jogador que chegasse a equipe mostra qual era o nível de habilidade desse meio campista quando o assunto são passes. Sinceramente não consigo pensar em ninguém melhor do que ele nesse fundamento.

 Michael Laudrup era um meia tão técnico, com uma visão de jogo e precisão de passe tão elevadas, que seus lançamentos e assistências fazem Iniesta e Xavi parecerem amadores. Não só isso, era incrivelmente habilidoso e finalizava bem, sobretudo de fora da área, um jogador mais do que incrível. Assistam os vídeo abaixo e vejam se eu tenho ou não razão.

Compilação geral de Laudrup. "Michael foi o maior jogador dos anos 90", Beckenbauer. 

Compilação de 11 minutos focando os passes de Laudrup. Deixar os companheiros na cara do gol era realmente o que ele fazia melhor.

Se alguém ainda estiver em dúvida do quão espetacular Laudrup era como passador (possivelmente nisso foi o melhor da história no fundamento), este vídeo de 84 minutos está aí para acabar com qualquer incerteza.

Michael Laudrup iniciou sua carreira no KB, da Dinamarca, em 1981. Na temporada seguinte se transferiu para o Brondby FC, clube no qual seu pai havia encerrado a carreira. Nesta equipe, começa a dar mais mostras de seu potencial, ficando em terceiro na tabela de artilharia e faturando o prêmio de jogador dinamarquês do ano, em 1982. Com esse nível de atuação, naturalmente chamou a atenção de gigantes do futebol europeu e em 1983 se transferiu para a Juventus. 

Transferindo-se para a equipe italiana, à época uma das mais fortes do mundo, as expectativas eram de que a carreira de Laudrup deslanchasse, mas os eventos não transcorreram conforme o esperado. Em função de as regras da época limitarem a dois o número de estrangeiros por equipe, e de a Juventus já contar com o francês Platini e o polonês Boniek, o dinamarquês foi emprestado à Lazio (que havia subido à primeira divisão no ano anterior). Após duas temporadas com boas atuações, volta a equipe de Turim, que agora já não mais contava com Boniek. 

Na Juventus forma uma dupla incrível com Platini, levando o time a mais um título italiano e à conquista da Copa Intercontinental na temporada 85-86. Após isso, os dois craques estrangeiros da equipe de Turim tiveram diversos problemas com lesões, levando à equipe a ficar sem títulos na temporada seguinte. O mesmo se repetiria nos anos seguintes, com a saída de Platini e a queda de produção de Laudrup. Em 1989, já com 25 anos, o dinamarquês se transfere ao Barcelona.

Nesse momento você, que possivelmente nunca ouviu falar sobre Laudrup e está lendo essa postagem deve estar desapontado. Sim, porque até os 25 anos tudo o que ele teve em termos de títulos foram um Italiano e um Intercontinental, e ainda poderia se dizer que ele só alcançou essas conquistas "na aba" de Platini. Também não tinha tido uma grande premiação individual. Havia feito lances bonitos, mas ao que parece não era tão bom assim, não é? 

Não, não é. Realmente se trata de um craque fora de série, o tipo de jogador acima da média até em comparação a outros craques, mas que ainda não tinha demonstrado quase nada de seu potencial. Os anos seguintes provariam isso. 

No Barcelona Laudrup faria parte da equipe comanda pelo seu ídolo de infância, Cruyff. O clube catalão à época havia vencido apenas um espanhol nas últimas 15 temporadas, e, por isso mesmo, tinha sede de títulos. O holandês montaria um time forte, e logo na temporada 89/90 viriam duas conquistas: a Copa do Rei e a extinta Winner's Cup.

Na sequência o Barcelona contrataria um importante reforço, o Búlgaro Hristo Stoichkov, fortificando ainda mais seu time. Com isso teriam um grande sucesso nos anos seguintes, vencendo o Espanhol nas temporadas 90-91 e 91-92, nesta última ganhando também a Champions League. Nesse ponto da carreira Laudrup era claramente o melhor jogador do barça, que era, ao lado do Milan, o mais forte time da época. Teria então tudo para ganhar a Bola de Ouro.

Mas faltava algo: muitas vezes Laudrup ficava devendo com a seleção dinamarquesa, que, embora contasse com ele, o goleiro Schmeichel e seu irmão, Brian, não havia sequer se qualificado para a Euro 92 (Michael e seu irmão não jogaram os 3 últimos jogos da classificação para o torneio, por problemas pessoais com o treinador). No entanto os dinamarqueses acabaram ingressando na competição depois que Iugoslávia perdeu sua vaga devido à guerra civil no país. Laudrup, no entanto, achou que as chances de sua seleção no torneio eram tão baixas que ele preferiu tirar férias a participar do certame.

Certamente ele se arrependeu dessa decisão, pois sua seleção, que realmente tinha alguns bons jogadores chegou à semifinal contra a então campeã Holanda, o que daria a ele uma boa oportunidade de mostrar suas habilidades em um duelo com Van Basten. Porém as surpresas estariam apenas começando: a partida terminou empada em 2 a 2, e, nos pênaltis a Dinamarca passou. 

Na final mais uma surpresa: 2 a 0 para cima da campeã mundial Alemanha, e Laudrup havia perdido a oportunidade de ganhar tanto a Bola de Ouro quanto o recém criado prêmio de Melhor do Mundo da FIFA. Embora muitos considerem, inclusive eu, que nesse momento ele era o melhor jogador do planeta, o dinamarquês não ganharia nenhuma das premiações, perdendo ambas para Van Basten.

Laudrup manteria o alto nível de atuação, e o Barcelona venceria mais um Campeonato Espanhol, o terceiro em série. Todavia uma grande mudança aconteceu na temporada seguinte: o clube catalão contratou Romário, um quarto estrangeiro, e, como as regras da UEFA permitiam que uma equipe jogasse com apenas três atletas de outro país, os quatro teriam de se revezar. 

Apesar disso a temporada 93-94 foi bastante positiva para o barça, que venceu mais um Campeonato Espanhol, com direito a um sonoro 5 a 0 no Real Madrid e se classificou para a final da Champions. Todavia Laudrup se desentende com Cruyff e este resolve não colocá-lo na final: o resultado foi um 4 a 0 para o Milan. O treinador da equipe italiana, Fábio Capello, diria: "O cara de quem eu tinha medo era o Laudrup, mas Cruyff decidiu deixá-lo fora e esse foi seu erro." 


Laudrup em ação no 5 a 0 contra o Real. Sinceramente, não estava muito inspirado, mas assim mesmo fez um assistência.

Após esse jogo o tempo de Laudrup no Barcelona chegou ao fim, pois ele se transferiu para o Real Madrid. Na nova equipe, o dinamarquês mais uma vez mostra seu altíssimo nível: o Real quebra a série de títulos espanhóis do Barcelona e devolve o 5 a 0 da temporada anterior ao rival. Após esse jogo, Cruyff diria: "Quando Michael joga como um sonho, uma ilusão mágica, determinado a mostrar ao seu novo time suas habilidades extremas, ninguém no mundo chega perto do seu nível." Após essa conquista Laudrup se tornou o único futebolista a vencer o campeonato espanhol cinco vezes seguidas por times diferentes.


E aqui Laudrup no 5 a 0 contra o Real Madrid

Ainda no ano de 1995, Laudrup lideraria a Dinamarca a mais uma conquista, a Copa das Confederações. Michael deixaria o dele na final, contra a Argentina. Apesar de ser o principal jogador do Campeão Espanhol e da seleção campeã da Copa das Confederações, Laudrup não chegaria nem perto de vencer a Bola de Ouro ou o prêmio de Melhor do Mundo.  

Algo curioso nessas premiações é que Zamorano, do Real Madrid, ficou a frente de Michael no prêmio da FIFA, sendo que 82% de seus gols naquele ano vieram de assistências do Dinamarquês, e, antes de sua chegada, a média do chileno no espanhol mal passava de 0,3 por jogo. 


Os gols da vitória da Dinamarca contra a Argentina

Em 1996 Laudrup deixa o Real Madrid, passando a jogar por clubes de menor expressão, até que em 1998, vai para o Ajax, vencendo o Campeonato Holandês. Ainda naquele ano, Laudrup seria o capitão da Dinamarca na Copa do Mundo, fazendo uma grande exibição e chegando à seleção do torneio (apesar de sua idade e de sua seleção ser eliminada nas quartas de final). Após isso, o craque se aposentou.

Sinceramente acho um absurdo que sua carreira acabou sem uma Bola de Ouro ou um prêmio de melhor do mundo. Para mim Laudrup pode ser comparado a Zidane, inclusive marcou mais gols que o francês em menos jogos, tanto por seleção quanto por clubes, e tem mais assistências também, mas não afirmo que ele foi melhor, porque afinal futebol não se resume a números. Digo apenas que são dois jogadores comparáveis.

Se as premiações como a Bola de Ouro e o Melhor do Mundo da FIFA não deram tanta importância a Laudrup, após sua aposentadoria, receberia muito reconhecimento por parte de jogadores, comentaristas e técnicos. Abaixo deixo algumas citações sobre esse craque.

Romário: Ele é o melhor com quem eu joguei, e o quinto melhor da história do jogo. (Depois Romário diria que Ronaldo foi o melhor com quem ele jogou).

Iniesta: O melhor jogador da história? Laudrup. (Aliás, vemos semelhanças no estilo de jogo de Iniesta e Laudrup).

Beckenbauer: Pelé foi o melhor nos anos 60, Cruyff nos 70, Maradona nos 80 e Laudrup nos 90.

Guardiola: O melhor jogador do mundo. Não acredito que ele não ganhou um prêmio de melhor do mundo.


Um monstro, um dos jogadores que mais me impressionou em todas as minhas pesquisas. Acessando o canal neste LINK, você pode encontrar mais vídeos deste craque.


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