quarta-feira, 24 de julho de 2013

Atlético x Olímpia - Galo Campeão da América

Atlético e Olímpia mediram forças para determinar quem vai vencer a Copa Libertadores. Na verdade, enquanto escrevo esse texto, o jogo decisivo está em andamento, ainda 0 a 0. Particularmente acho que a equipe brasileira tem qualidade para vencer, muito embora tenha adquirido um certo "salto alto" após eliminar o São Paulo com show e goleada. Dali até a final os mineiros conquistaram apenas mais uma vitória, em cinco partidas. Isso sem contar a partida de hoje, 24/07.

O primeiro tempo foi bem morno, poucas chances de gol por parte do Atlético e a defesa mineira, talvez sentindo falta dos laterais, se mostrou frágil em algumas oportunidades. Os brasileiros estão precisando de um lance para incendiar o jogo. De qualquer forma, caso o empate continue por mais algum tempo, o Galo vai pressionar de qualquer forma; Guilherme deve entrar, a torcida vai empurrar, vejamos. Vai começar a segunda etapa.

Caramba, o Atlético está com sorte de campeão. Nem dois minutos do segundo tempo e gol do Jô, bola espirrada na área, falha da defesa paraguaia. Vejamos como continua a partida. Conforme o esperado a equipe brasileira partiu para cima, e quase saiu mais um: após rebote em chute de Tardelli, Jô cabeceou e a bola passou a apenas alguns centímetros da.  Comparando com o boxe, podemos dizer que nesse momento o Olímpia está "tonto" com o golpe sofrido.

Jô abre o placar no Mineirão.

Nova chance atleticana nos pés de Jô, Silva acabou defendendo. Os dez minutos iniciais da segunda etapa foram dominados pelos brasileiros, mas com menos intensidade do que eu esperava. Agora uma bola na trave em cabeçada de Leonardo. Se continuar desse jeito o segundo gol deve sair em pouco tempo.

Após 10 minutos sem escrever mais nada, uma notificação de que o jogo esfriou, apenas mais uma chance para cada lado, além de destacar que a atuação do Ronaldinho, que claro, é craque, pode decidir a qualquer momento, e tudo que todos sabem, está sendo muito fraca até os 24 minutos da segunda etapa. Olha como as coisas podem mudar, quase gol do Leonardo Silva após falta cobrada pelo gaúcho. Agora entrou o Alecsandro no Galo.

34 minutos, bola na mão na área do Olímpia, mas é só. Como eu previ (e todo mundo sabia), Guilherme vai entrar. Bom chute de Ronaldinho e Tardelli perdeu o rebote inacreditavelmente, a sorte dele é que estava impedido no lance. Justamente esse atacante sai para a substituição atleticana.

Incrível a sorte de campeão do time mineiro. Ferrera, jogador do Olímpia driblou Victor e ficou com o gol aberto, mas escorregou na hora do chute. O Atlético todavia, não se mostra merecedor de tal sorte até aqui, já que nem faz uma grande pressão no adversário a sete minutos do fim. Vamos ver agora, que Manzur foi expulso e os brasileiros, portanto, jogarão com um a mais a partir de agora. Ronaldinho tem uma boa falta para cobrar. E bate mal, na barreira.

Gol do Atlético! Leonardo Silva, o zagueiro artilheiro, de cabeça após cruzamento de Bernard. Posso queimar a língua, mas o Galo está praticamente ganha a taça, já que terá 30 minutos com um a mais, empurrado pela torcida, para fazer um gol. Isso se não fizer nos próximos três minutos.

O Galo empata! Leonardo Silva, aos 42 do segundo tempo.

O Atlético pressiona em busca do terceiro gol, e força a barra para ver se consegue um penalti.Três minutos de acréscimo. Fim de jogo, vai ter prorrogação, como já expliquei anteriormente o Galo é favorito, o provável é que resolva sem penaltis.

Recomeça o jogo. 4 minutos e o Atlético, até aqui, apenas toca de um lado para o outro, esperando uma brecha. 8 minutos e dava até pra ter cochilad... na trave!!! Réver mandou ali na forquilha! E o Galo chega de novo, quase Guilherme! Foi só ameaçar cornetar que o Atlético acordou. Mais pressão: Josué quase encobre Silva, e enquanto eu digitava Réver tentou mais uma cabeçada. Outra boa falta para o Ronaldinho. Quem sabe agora. Não saiu nada, fim do primeiro tempo da prorrogação.

A partida começa de novo. O Galo tem 15 minutos para fazer um gol e evitar os penaltis. 4 minutos e até aqui só chuveirinho do Atlético, sem nada de maior importância. Parece que não vai dar para o Bernard, correu demais, não está conseguindo ficar em pé e chora nesse momento. Falta perigosa para o Olímpia. O Mineirão fez silêncio e quase gol paraguaio, a bola raspou a trave. Bernard volta para o campo.

Está chegando a hora da verdade, 12 minutos, se não sair gol nos próximos 3 minutos não sair gol, vai para os penaltis. O goleiro do Olímpia cai com a mão na coxa, deve ser catimba. Agora já temos 14 minutos. Bernard segue mancando.

Quase!!!! Alecsandro teve a bola para decidir. Cara a cara com o goleiro tocou por cima, mas o zagueiro Miranda tirou de cabeça. O jogo, tecnicamente não foi lá essas coisas, mas sem dúvidas foi muito emocionante. 20 segundos para o fim. Acabou, diferente do esperado teremos penaltis.

O Atlético pode até ganhar, mas acho que deveria ter sido mais agressivo na prorrogação. Se formos pensar em sorte, o Galo tem um grande favoritismo, pois vendo a campanha, há quase uma predestinação para que os mineiros sejam campeões. Só assistindo para saber. Como o meu time não estava jogando, torci para a decisão nos penaltis, que é mais emocionante.

Vai começar. O Olímpia bate primeiro: Miranda. Victor!!! Penalti mal batido, no meio, o goleiro do Galo defende (adiantou muito!). Alecsandro para o Galo... e gol! Ferrera para os paraguaios... gol. Vem Guilherme, e gol (Silva quase defendeu, mas a cobrança foi perfeita).

 Candía... gol (bola no meio). Jô vai cobrar o próximo. Bola para um lado, goleiro para o outro. O Galo vai se aproximando da vitória. Aranda para os paraguaios... e mais um gol no meio. Gol de Leonardo Silva! Se o Olímpia perder o Atlético é campeão. Na trave!!!

Os penaltis do triunfo atleticano.

O Galo é campeão da Libertadores de 2013! Emocionante, eletrizante, parabéns ao Atlético Mineiro, que nos últimos jogos não foi tão brilhante assim, mas mereceu vencer. Mais um título do futebol brasileiro na competição sul-americana.

Os melhores momentos da final.

Corinthians 50-54(57) - Os Magiares Mágicos do Brasil

Antes de começar a falar sobre a melhor equipe montada pelo time do meu coração em todos os tempos, gostaria de fazer algumas considerações sobre o título do post. Primeiramente, muitos dirão que o chamado esquadrão do Corinthians na década de 50 acabou em 1954.

De fato, nesse ano o timão, que na época ainda nem tinha esse apelido, ganhou seu último paulista antes do famoso jejum de 23 anos. Todavia, é preciso lembrar que a equipe continuou competitiva nos anos seguintes, embora já sem a mesma força. Os feitos do Corinthians entre 55 e 57 incluem, além de boas campanhas no estadual, a conquista do Torneio Internacional Charles Muller (1955) e da Copa do Atlântico (1956). Por essa razão eu acredito que seria mais coerente pensar nesse esquadrão realmente acabando em 1957, quando Cláudio, Baltazar e Carbone deixam o time.

Outro ponto do título que merece uma explicação é a referência ao Time de Ouro da Hungria. Estabelecer esse paralelo entre a equipe do Corinthians e os Mágicos Magiares me pareceu uma boa homenagem ao esquadrão alvinegro pelas razões explicitadas abaixo.

A Hungria, que entre 50 e 54 dominou o futebol mundial, a nível de seleções, ficou por incríveis 31 ou 32 jogos sem perder (já vi textos indicando ambos os números, mas acredito que foram 31). De qualquer forma, o Corinthians, que entre 50 e 54 mostrou ser um dos mais fortes times do mundo vencendo vários torneios, não ficou atrás, pois conseguiu ficar 32 jogos invicto contra equipes estrangeiras. Feitas essas explicações iniciais, vamos falar sobre os jogadores e títulos dessa equipe alvinegra.

 Principais Jogadores

Essa equipe do corinthians tinha uma interessante mescla de jogadores raçudos e craques, além de jogadores experientes e jovens, o que fazia o conjunto funcionar muito bem. Abaixo falamos sobre as principais peças alvinegras no período.


Gylmar: A frase "um grande time começa com um grande goleiro" certamente se aplica a essa equipe do Corinthians e ao Santos de Pelé, uma vez que ambos contaram com Gylmar dos Santos neves, praticamente uma unanimidade quando se pergunta quem é o melhor do Brasil nessa posição. Ele chegou ao Timão em 51, permanecendo por 10 anos, e de todos os jogadores alvinegros dessa época, foi o de maior relevância para a seleção, vencendo as Copas de 58 e 62. Com a camisa alvinegra, seu melhor momento foi na conquista do título do Paulista de 1954 quando garantiu o empate na decisão contra o Palmeiras. Tão destacada foi a sua atuação que após esse jogo a torcida alvinegra começou a chamá-lo de "Supremo Guardião do Campeão do Centenário", já que naquela ocasião a cidade completava 400 anos.




Roberto Belangero: "Um dos maiores jogadores, que eu vi bater mais bonito na bola, foi Roberto Belangero." Não, eu não posso dizer isso, porque infelizmente não tive o privilégio de ver esse craque jogar; essa frase é de ninguém menos que Nílton Santos. Roberto Belangero era um volante, o melhor da história do Corinthians, segundo muitos. Dono de uma elegância ímpar, ele era o principal articulador das jogadas de ataque dos Magiares do Brasil, mas nem por isso deixava de marcar, desempenhando também essa função, com muita raça. Serviu a Seleção em muitas oportunidades, mas acabou sendo cortado da Copa de 54 por uma opção no mínimo discutível do técnico e em 58 também ficou de fora do mundial, desta vez por contusão.


Baltazar: Se a Hungria tinha Kócsis, o "homem da cabeça dourada", o Corinthians tinha Baltazar, o "cabecinha de ouro". Oswaldo Silva chegou ao timão em 45, como meia-direita, mas mudou para centroavante algum tempo depois. Dizia ele que não era muito bom com a bola nos pés, mas com a cabeça era superior até a Pelé. Ainda hoje é o segundo maior artilheiro da história do Corinthians, com 267 gols, 71 dos quais de cabeça (se bem que seu busto no Pacaembu fala em 150). Pela seleção tem a boa marca de 17 gols em 31 partidas, tendo jogado as Copas de 50 e 54. Foi homenageado na marcha de carnaval "gol de Baltazar", que dizia:

Gol de Baltazar,
Gol de Baltazar,
Salta o "Cabecinha",
Um a zero no placar.
(bis)

O Mosqueteiro,
Ninguém pode derrotar,
Carbone é o artilheiro espetacular,
Cláudio, Luizinho e Mário,
Julião, Roberto e Idário,
Homero, Olavo e Gilmar,
São os onze craques,
Que São Paulo vai consagrar.

Cláudio: Creio que poucos times tenham contado com seus dois maiores artilheiros ao mesmo tempo. O Corinthians é um desses times, tendo contado, além de Baltazar, com Cláudio, autor de 306 gols pelo clube. Era um ponta tecnicamente perfeito: preciso nos dribes curtos, rápido e capaz de colocar a bola onde quisesse, estivesse ela rolando ou parada, fosse para um cruzamento ou um chute. Além de ter anotado mais tentos do que qualquer outro com a camisa do timão, o gerente, como era chamado, ajudou a consagrar seus colegas de ataque, com suas assistências (Baltazar aproveitou mais que qualquer outro). Pela seleção participou da conquista da Copa América em 1949, marcando 3 gols em 2 jogos (Tesourinha, que era o titular, marcou 7 gols nas outras 5 partidas do Brasil). Era um nome dado como certo na Copa de 50, ainda mais depois do corte de Tesourinha, mas Flávio Costa, em gritante exemplo de seu bairrismo, não o levou para o torneio.


Luizinho: Não sei apontar com certeza quem seria o melhor jogador dessa equipe, mas certamente Luizinho é um forte candidato ao posto. Além de ser rápido, bom finalizador e até conseguir fazer gols importantes de cabeça, Luiz Trochillo era um driblador fenomenal (chegou a aplicar 6 ou 7 canetas em um zagueiro do Palmeiras no mesmo jogo), que inflamava a torcida com suas fintas. A época o Corinthians chegou a recusar uma proposta de um milhão de dólares por esse meia direita. Também teve grandes atuações pela seleção, entre 55 e 57, chegando a marcar um gol que encerrou um tabu de 10 anos sem vitórias do Brasil contra a Argentina. Houve na imprensa quem dissesse que ele seria, na equipe nacional, o sucessor de Zizinho (ídolo de Pelé e melhor jogador da Copa de 50). Todavia, o pequeno polegar, como ficou conhecido, disse que não mais jogaria mais pelo escrete canarinho após ser cortado da equipe que disputaria a Copa de 58, e assim o fez.


Idário: Se eu dissesse que durante uma partida de futebol, em um único lance, um ponta esquerda driblou um lateral direito 14 vezes, você, leitor, ficaria mais impressionado pela participação de qual dos dois atletas na jogada? Eu acho mais inacreditável o que fez o defensor; que certamente era muito inferior ao adversário em termos técnicos, mas teve uma raça incrível para não desistir do lance em momento algum. Essa sequência de fintas foi realizada por Canhoteiro do São Paulo em Idário do Corinthians. Idário certamente não era nenhum craque, mas sua raça e amor a camisa fazem com que ele seja lembrado até hoje como o jogador mais raçudo da história alvinegra, sendo autor de frases como "não jogo por dinheiro, jogo por amor ao Corinthians", e chamado ainda hoje de "Deus da Raça" pelos torcedores do timão.

50-54: A Era de Ouro


Após uma campanha fraca no Campeonato Paulista de 1949 a palavra de ordem no Corinthians era renovação. Por essa razão, no Torneio Rio-São Paulo de 1950, a equipe alvinegra deu chance a uma geração de garotos vindo de uma boa geração da base, dentro os quais, Luizinho, Roberto Belangero e Idário, e ainda outros que não foram aproveitados, como, vejam que curioso, Julinho Botelho (que seria ídolo no Palmeiras, além de fazer quatro gols contra o próprio Corinthians em um dos primeiros jogos de Gylmar no alvinegro, quando defendia a Portuguesa).

O Torneio Regional voltava a ser realizado após 17 anos (oficialmente), ou 8, dependendo da fonte (algumas consideram a competição "Quinela de Ouro" de 1942 como um Rio-São Paulo), e passaria a ser disputado anualmente após aquela edição. O certame se tornou ainda mais valorizado quando a CDB colocou em jogo o título honorífico de Campeão Honorário do Brasil.

Apesar de contar com o esboço do maior time de sua história, parecia que o clube alvinegro teria mais uma campanha ruim: na estreia foi goleado pelo Flamengo, por 6 a 2. Todavia, houve tempo para que a equipe se recuperasse, e após vencer dois clássicos, contra São Paulo e Palmeiras, o Corinthians se projetava como candidato ao título.

A oportunidade para assumir a ponta da tabela surgiu no confronto contra o favorito ao título, a equipe extremamente forte do Vasco da Gama, que havia acabado de conquistar o Campeonato Carioca marcando não menos que 84 gols. Com o Pacaembu lotado e tendo sido jogada, imagino eu, uma partida incrível, o Corinthians saiu vitorioso, pelo placar de 2 a 1, gols de Cláudio e Baltazar.

O time campeão em 1950. Em pé: Luizinho, Nelsinho, Belfare, Hélio, Idário, Baltazar, Touguinha e Nilton. Agachados: Noronha, Cláudio e Bino.

Após esse decisivo e inesperado triunfo, a equipe alvinegra ganhou moral no torneio, e com mais duas vitórias, sobre Fluminense e Portuguesa, chegou a última rodada precisando de apenas um empate para garantir o título. Foi exatamente o que aconteceu, tendo a partida contra o Botafogo terminado 1 a 1. Baltazar foi o artilheiro da competição com 9 gols.

Essa conquista, do Rio-São Paulo, deu uma bela mostra do potencial daquela equipe, que teria belos momentos na sequência, como uma vitória contra um combinado uruguaio que contava com muitos jogadores que haviam vencido a Copa meses antes, mas não houve uma sequência de conquistas imediata. Nas duas competições seguintes, o Paulista de 1950 e o Rio-São Paulo de 1951, o Corinthians fez boas campanhas, mas viu o rival Palmeiras levantar ambas as taças.

Após perder esses títulos a equipe alvinegra sentiu a necessidade de se reforçar, e foi às compras, fazendo algumas contratações. Os reforços incluiam o goleiro Gylmar, o meia Carbone (que logo em seu ano de estreia seria artilheiro do Paulista) e o ponta-esquerda Mário (jogador tido ainda hoje como um dos maiores dribladores da história do clube, que daria origem a lendas por "não gostar" de marcar gols), e com esses jogadores o Corinthians vai chegar ao seu melhor momento.

No primeiro campeonato disputado com os novos reforços, embora Gylmar ainda estivesse no banco, o Corinthians fez uma campanha arrasadora no Paulistão de 1951.  A equipe marcou 103 gols em 28 jogos, sendo essa a primeira vez em que um time superou a marca de 100 gols dentro do regime profissional no futebol brasileiro.

As principais estrelas do Corinthians na competição.

Com um ataque tão poderoso, o Corinthians não teve dificuldades para levantar a taça, terminando 7 pontos a frente do segundo colocado (lembrando que na época a vitória valia dois pontos). Na última rodada, já com o título assegurado, a equipe alvinegra bateu o Palmeiras por 3 a 1, tendo Luizinho marcado de letra o terceiro gol. Após essa conquista o timão foi excursionar no velho continente, e fez a maior exibição do futebol brasileiro na Europa até então.

É verdade que os Magiares do Brasil acabariam sendo derrotados pelo Besiktas logo na primeira partida da excursão, por 1 a 0, mas na sequência venceram 12 partidas e empataram 3. A excelente campanha no Velho Continente renderia ao Corinthians o título honorífico Faixa de Ouro do Futebol Brasileiro.

Pontos altos da excursão incluem uma goleada contra a Seleção de Gotenburgo por 9 a 3, além de um triunfo por 2 a 1 (os jornais disseram que o Corinthians merecia um placar mais elástico) contra o Malmo, então bicampeão sueco; o primeiro tento da partida foi um golaço de Luizinho, marcado após o mesmo driblar vários adversários e tabelar com Carbone. Também o vice-campeão da Suécia, o Djugarden, teria a oportunidade de jogar contra o Corinthians, e o resultado foi mais vitória alvinegra, desta vez por 3 a 2.


Vídeo histórico com imagens de dois dos jogos corinthianos na Suécia. Antes que alguém questione a qualidade dos adversários, gostaria de lembrar que o futebol sueco era forte, vice-campeão do mundo em 58, terceiro colocado em 50.

A partida mais emocionante da campanha alvinegra no Velho Continente foi na partida contra a Seleção da Dinamarca. Nessa partida, de acordo com os relatos, o Corinthians foi claramente prejudicado pela arbitragem, que chegou a assinalar três penaltis para a equipe local, dos quais apenas um teria existido, além de anular um gol alvinegro e não marcar uma penalidade que teria sido cometida sobre Luizinho. Relata-se que o juiz chegou a ser vaiado pela torcida presente no estádio. Deve ter sido uma atuação nível Amarilla.

 Apesar disso o Corinthians conseguiu abrir o placar, depois que Idário recuperou a bola pela direita, avançou e passou para Cláudio. O maior artilheiro da história corinthiana foi derrubado, mas levantou rapidamente, se livrou do marcador com uma bela finta, e cruzou para Luizinho abrir o placar. A equipe da Dinamarca empatou em um dos três penaltis que teve, tendo os outros dois sido defendidos por Gylmar, o nome do jogo. 


Na última partida antes de voltar para o Brasil, o Corinthians conseguiu o placar mais elástico da excursão, ao bater a seleção de Halmstad por 10 a 1, com destaque para o quinto gol, marcado por Cláudio, fruto de uma tabela do mesmo com Luizinho, iniciada na região central do campo, além  do sétimo, marcado pelo Pequeno Polegar após driblar vários jogadores suecos. Os autores dos tentos mencionados são considerados os inventores da tabela por parte da imprensa esportiva.

Equipe do Corinthians antes de uma partida. Não poderia deixar de notar que Luizinho aparece sentado na bola, nesta imagem.

De volta a São Paulo, os jogadores alvinegros foram recebidos por cem mil pessoas no aeroporto de Congonhas, dentre os quais se encontravam tanto corinthianos quantos torcedores rivais. Foi quando tiveram uma noção maior da dimensão do que havia feito:

- A emoção que me invade o coração é das maiores. Nunca poderia esperar que fossemos ter uma recepção tão grandiosa. Isso quer dizer que o povo ficou satisfeito com a nossa campanha. - Disse Luizinho.

- Melhor do que qualquer palavra, fala a nossa campanha. - Sintetizou Cláudio.

A primeira competição a ser disputada pelo Corinthians em seu retorno ao Brasil seria a Copa Rio Intercontinental, e o timão fez uma grande campanha, chegando à final com 100% de aproveitamento, inclusive vencendo o Peñarol (base da seleção uruguaia) no caminho.

Todavia, devido a violência da equipe uruguaia, o Corinthians acabou perdendo três jogadores titulares, dentre eles Baltazar, e Roberto Belangero, que, como vocês devem lembrar, era o cérebro do time. Sem jogadores dessa importância, enfrentando o forte Fluminense em duas partidas no Maracanã, o alvinegro acabou perdendo o título (poderia ter acontecido sem os desfalques, embora fosse menos provável)

A equipe não se abalou, e chegou forte para já no mês seguinte disputar a Taça Cidade de São Paulo. O troféu ficaria em definitivo com a equipe que vencesse a competição cinco vezes, e tanto o Palmeiras quanto o Corinthians já haviam vencido o certame quatro vezes. Na última partida da edição de 1952, estariam os dois rivais frente a frente. A equipe alviverde precisava vencer o seu rival para forçar partidas de desempate, enquanto o timão precisava apenas de um empate para se sagrar campeão. Todavia, os alvinegros não precisaram da vantagem que os resultados anteriores lhes davam.

Cartaz de divulgação do jogo.

Com a bola rolando o Corinthians goleou o Palmeiras por 5 a 1, sendo Carbone, autor de 3 gols, o destaque da partida ao lado de Luizinho, que marcou um dos tentos alvinegros, além de impor um verdadeiro baile à defesa rival. Nessa partida o Pequeno Polegar, aplicou seguidas fintas desconcertantes no volante Luiz Villa, que caiu no chão; segundo as testemunhas o corinthiano então sentou na bola para esperar que o marcador se levantasse para driblá-lo novamente.

O craque nunca admitiu ter feito tal coisa, mas também não desmentiu, dizendo que "garoto novo não tem juízo" ou "devo ter escorregado e caí sentado na bola", e ainda "o Villa era um bom sujeito, se fosse outro, tinha me quebrado". Certo mesmo é que sua atuação foi genial, virando manchete até mesmo no jornal mundo desportivo, que sobre ele escreveu: “Com sua fenomenal intuição malabarística, com raciocínios lampejantes e pernas que seguem o ritmo que lhes impõe o cérebro, quando acerta, quando a massa encefálica está fresca e criadora, é irresistível”.

Após isso o Corinthians entrou no Campeonato Paulista com grande favoritismo, e como contava com a mesma base do ano anterior, o sonho de novamente ultrapassar a marca de 100 gols não parecia impossível. O timão bem que tentou, mas não conseguiu repetir a façanha do ano anterior. Mesmo assim foi campeão antecipadamente, 6 pontos a frente do segundo colocado, marcando 89 gols, 27 deles feitos por Baltazar, artilheiro do torneio.

Dentre os grandes jogos da campanha, destacam-se a emocionante vitória por 6 a 4 contra o Palmeiras, com 3 gols de Cláudio e 2 de Baltazar. Outra partida espetacular foi virada contra o São Paulo, por 3 a 2 (o clube do Morumbi terminou o primeiro tempo vencendo por 2 a 0, mas o Corinthians, embora já tivesse garantido o título, buscou a virada).

Meses depois dessa brilhante campanha o Corinthians conquistou mais um grande título ao vencer o Rio-São Paulo em 1953. Isso fez com que o Corinthians chegasse com moral para a disputa do Torneio Octogonal Rivadavia Corrêa Meyer, que era o substituto da Copa Rio, mas acabou sendo surpreendido na semifinal pelo forte time do Vasco. Menos de um mês depois desta derrota o timão já se via disputando mais um mundialito.

Dessa vez tratava-se da Pequena Taça do Mundo. Além do próprio Corinthians, participaram do torneio o forte time da Roma, a Seleção de Caracas, além do já badalado Barcelona. Na época o clube catalão havia acabado de conquistar o bicampeonato espanhol e o tri na Copa do Rei, além de contar com vários jogadores da seleção espanhola, dentro os quais o naturalizado László Kubala, que em 1999, por ocasião do aniversário de 100 anos do Barça, foi eleito pela torcida o maior jogador da história do clube (que contou com Cruyff, Romário, Ronaldo...).

Os Magiares do Brasil não se importaram com o favoritismo do time espanhol, e, liderados por Cláudio e Luizinho, fizeram uma campanha irretocável, vencendo todos as seis partidas que jogaram, inclusive derrotando o Barcelona duas vezes, por 3 a 2 e 1 a 0. O Pequeno Polegar marcou 5 vezes, e ganhou um troféu por ser o artilheiro do torneio (este decoraria a sala de sua casa até o fim dos seus dias), enquanto o gerente recebeu o prêmio de melhor jogador da competição.

Na volta ao Brasil, reza a lenda que Alfredo Ignácio Trindade, então presidente alvinegro, teria perguntado aos jogadores se eles preferiam ser tricampeões estaduais em 53 ou vencer o Paulista no ano do aniversário de 400 anos da cidade, em 54. Os atletas teriam escolhido a segunda opção. Verdade ou mito, tenham os corinthianos levado essa escolha ou não a sério, o fato é que o timão fez uma campanha muito abaixo de suas capacidades no campeonato de 1953, ficando em terceiro lugar.

Na sequência o Corinthians já foi mostrando como seria o ano de 1954, começando o Rio-São Paulo com 6 vitórias. Todavia o time desandou, e perdeu os dois jogos seguintes, possibilitando que o Fluminense assumisse a ponta da tabela, e o Palmeiras empatasse com o Corinthians em número de pontos. Em função da derrota do clube carioca, quem vencesse o Derby Paulista se sagraria campeão do certame. Cláudio marcou o gol em um chute sem ângulo, e garantiu o bicampeonato do timão no torneio regional.

Terminado o Rio-São Paulo, quase não houve tempo para comemorar: se iniciaria o Paulista mais importante da história. Era o aniversário de 400 anos de São Paulo, razão pela qual todos os times se prepararam especialmente para o campeonato, que foi mais cobiçado que qualquer outra edição do estadual.

A competição foi bastante acirrada, com menos goleadas que os anos anteriores, e os times mais próximos uns dos outros na tabela. No final, Corinthians e Palmeiras despontavam como candidatos ao título. O alvinegro tinha a vantagem do empate, porque no primeiro turno havia vencido o Palmeiras, em um jogo semelhante a virada contra o São Paulo em 1952, só que dessa vez foram Luizinho (2x) e Baltazar os autores dos gols.

No jogo decisivo, Cláudio cobrou lateral para Rafael, que a essa altura já havia tomado o lugar de Carbone no time. O jovem meia devolveu e o gerente fez um cruzamento entre dois palmeireses, com a bola descendo a meia altura exatamente onde chegava o Pequeno Polegar. Luizinho cabeceou, a bola bateu na trave e entrou no gol palmeirense.

O Palmeiras tentava a reação, mas estava difícil, porque seu principal jogador, o grande Jair da Rosa Pinto estava sofrendo uma dura marcação de Roberto Belangero. Se estava difícil com a bola rolando, com ela parada o craque alviverde conseguiu criar uma chance em uma falta, e Nei empatou o jogo. A partir daí o Palmeiras passou a pressionar e esteve perto do gol em alguns momentos, mas lá atrás o Corinthians tinha Gylmar, e o goleiro garantiu o empate com uma atuação sensacional..

“Seria uma decisão como outra qualquer, mas com a diferença de que essa valia o título do Centenário de São Paulo. O Corinthians tinha a vantagem do empate, mas encontrou um adversário difícil. O jogo foi duro e bastante disputado. Logo no início fizemos 1 a 0. Depois, o Palmeiras reagiu e empatou. A partir daí, seguramos o resultado e fomos campeões. Todos queriam esse título, pois quem ganhasse ficaria com a glória para os cem anos seguintes.” - Gylmar, resumindo a partida.


Os gols e alguns lances da decisão entre Corinthians e Palmeiras

55-57: O Início do Jejum

Quis o destino que o Corinthians, mesmo contando com vários jogadores vitoroiosos no início da década, passasse os próximos anos sem conquistar o estadual ou o Rio-São Paulo. Aliás, a edição da competição regional que se seguiu ao título Paulista de 1954 foi um prenúncio de que tempos ruins viriam, pois apesar de ter um time forte o alvinegro fez uma campanha fraca.

Os Magiares do Brasil buscariam a recuperação na temporada em mais uma competição internacional, o Torneio Internacional Charles Muller. Após uma ótima campanha, que incluiu mais uma vitória contra o seu arquirival, o Corinthians enfrentou na última rodada o Benfica, que tinha vencido tanto o Campeonato Português quanto a Taça de Portugal. Cláudio foi o grande nome do jogo, marcando os dois gols da vitória alvinegra, por 2 a 1, com destaque para o segundo gol.

Foi uma cobrança de falta perfeita, e, segundo o goleiro, a bola teve uma trajetória semelhante a da "folha seca" do mestre Didi. O lance ficou eternizado pela frase de Costa Pereira, goleiro português: "Eu estava na direção da bola, mas no meio do caminho ela fez uma curvita". O filho de Cláudio, que estava no estádio, lembrando do lance anos depois disse que naquela partida, seu pai batera uma falta tão perfeita, que a princípio o goleiro achou que tivesse ido para fora, para depois notar que ela tinha entrado.

Reerguido moralmente, o Corinthians fez uma grande campanha no Paulista de 1955, vencendo o Santos na penúltima rodada, o que embolou o campeonato, que chegou a sua última rodada com 3 times brigando pelo título. Mesmo vencendo o Palmeiras no último jogo, o timão acabou ficando com o vice-campeonato, uma vez que o Santos, ainda na ponta da tabela também venceu.

Esse seria o primeiro de uma série de 3 campeonatos em que o Corinthians se aproximou do título, mas ficou no quase, pois no ano seguinte o clube ficou com o terceiro lugar, e em 57 perdeu o título no confronto direto com o São Paulo. Nesse último cabe a ressalva de que Luizinho não pôde jogar a partida decisiva por força de contusão, o que levaria o grande Zizinho a dizer "O Corinthians tinha o Luizinho, graças a Deus que ele não jogou".

Antes que alguém me acuse de clubista, é claro que o São Paulo tinha um grande time, contava com Zizinho e Canhoteiro, poderia sim ter vencido caso o Pequeno Polegar jogasse, como o próprio jogador diz, mas não deixa de ter sido uma baixa importantíssima para o timão. Mas nem tudo foi tristeza para o Corinthians nesse ínterim.

Em 1956 o clube venceu a Copa do Atlântico de Clubes, competição organizada pelas confederações de futebol do Brasil, da Argentina e do Uruguai. Cada país enviou cinco representantes. O torneio se deu em formato de mata-mata, e o Corinthians eliminou Danúbio, Santos e São Paulo, se classificando para a final com o Boca Juniors.

Existe aqui uma pequena divergência entre fontes, mas o que aconteceu foi o seguinte: o Boca desistiu da final, que seria uma melhor de 3 entre os clubes. A justificativa teria sido uma suposta injustiça no regulamento, que previa que o terceiro jogo seria disputado no Pacaembu, se necessário. A discordância entre os historiadores se dá porque alguns alegam que a equipe argentina teria ainda jogado o primeiro jogo em La Bombonera, sido derrotada por 3 a 2 e aí desistido do torneio, enquanto outros afirmam que nenhuma das partidas foi disputada. Não sei ao certo o que aconteceu.

Publicação a respeito da Copa do Atlântico

O fato é que foi uma importante conquista alvinegra, considerada pela IFFHS como uma das inspirações para a criação da Libertadores, ao lado do Sul-Americano de 48 e da Copa do Rio da Prata. A federação internacional de história e estatística do futebol inclusive, coloca em seu site, a conquista com o mesmo peso de outras competições sul-americanas. Pessoalmente acho um certo desleixo da parte do Corinthians não procurar obter da Conmebol o mesmo tipo de reconhecimento que o Vasco conseguiu para o seu título de 48. Deixo claro que sou contra qualquer tentativa de considerar essa competição como uma Libertadores.

Outra conquista corinthiana no período em questão foi a Taça dos Invictos, oferecida pela Gazeta Esportiva. Embora pareça sem importância hoje, a época esse troféu, oferecido ao time que ficasse mais partidas invicto no paulista, foi bastante cobiçado, e foi sim um triunfo significativo.


Para conquistar o troféu em 1957, o Corinthians teve um emocionante confronto com o Santos de Pelé, empatando o jogo em 3 a 3 nos últimos minutos. Veja os lances desse jogo. Você pode ainda conferir uma entrevista com alguns jogadores alvinegros, após a conquista em 1956 (eu não consegui anexar), clicando AQUI

Para faturar em definitivo a taça, entregue ao time que conseguisse a invencibilidade mais prolongada em dois anos, o Corinthians teve que obter a maior série sem derrotas em 56 e em 57, chegando a 25  e 35 jogos sem perder, respectivamente. Na segunda ocasião o jogo decisivo foi um confronto com o Santos de Pelé, que vencia e impedia o timão de obter o troféu até os 43 minutos do segundo tempo, por 3 a 2, com 3 gols do Rei, até que Paulo empatou e garantiu a conquista alvinegra.

Após esse período os jogadores remanescentes do começo da década foram deixando o clube e a fila, ficando mais evidente, sem outros títulos relevantes para atenuar a falta de estaduais.

Os Magiares em Números


Assim como fizemos em nossa postagem anterior, organizamos uma tabela acompanhando o desempenho do esquadrão nas prinicipais competições disputadas. O item "outros", inclui a Taça Cidade de São Paulo em 52, a Copa Rio de 52, o Octogonal Rivadavia em 53, o Internacional Charles Muller em 55, a Copa do Atlântico em 56, além da excursão à Europa em 52, que não é exatamente uma competição, mas devido ao êxito alcançado e a valorização popular, foi considerada no nosso levantamento. Caso haja algum erro, embora eu ache que não, me comuniquem para que eu possa corrigir os dados apresentados.


Vemos que se considerarmos o período de 50 a 57 o aproveitamento cai um pouco em relação ao resultado obtido quando se considera apenas o intervalo entre 50 e 54. Como era de se esperar uma equipe que faz muitos gols, já que contava com vários dos maiores artilheiros do Corinthians, e, para a época, forte na defesa, que teve seu melhor momento em 1954.

Considerando as partidas de 50 a 54, o timão tem a bela marca de 68% de vitórias e quase 2,7 gols por jogo. Esses números caem ligeiramente quando se analisa entre 50 e 57, enquanto que a média de gols tomados por partida se mantem estável e em torno de 1,4.

Vemos que em termos estatísticos, na Era de Ouro, os "Magiares do Brasil" ficam praticamente empatados com o Expresso da Vitória. Uma comparação entre os dois esquadrões seria demorada, com vários argumentos para cada um (os números dariam ligeira vantagem à equipe carioca, que na minha opinião é um pouco melhor), mas esse não é o propósito do texto.

A frase que iniciou o parágrafo anterior visa apenas indicar que embora muitos tentem diminuir ou desvalorizar essa grande equipe do Corinthians, ela no mínimo não fica muito atrás do mais reconhecido esquadrão brasileiro na era pré-Pelé (aliás, venceram esse adversário nas 3 vezes em que se encontraram, uma delas com o Expresso no auge). Certamente tem o seu lugar entre as 5 ou 6 melhores equipes do nosso país.



Mais alguns lances desse genial esquadrão, com destaque para um gol de Baltazar aos 30 segundos e alguns dribles de Luizinho, além de uma tabela do mesmo com Cláudio.


O Corinthians campeão em 51, melhor campanha alvinegra no estadual.



Postagem Relacionada


1. Outro grande esquadrão brasileiro da era pré-Pelé sobre o qual tivemos a oportunidade de falar foi o grande Expresso da Vitória, que entre outros feitos venceu o famoso Sul-Americano de 48 além de ser a base da seleção de 50. Clique AQUI para ler sobre essa equipe.


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terça-feira, 2 de julho de 2013

Vasco 1944-52, o Expresso da Vitória

Após um período sem troféus no final da década de 30 e no início da década de 40, o Vasco da Gama, sob a administração de Cyro Aranha, começou a montar um time forte para dar fim ao pequeno jejum. O resultado foi o maior equadrão da história da Equipe da Colina, provavelmente o maior do futebol brasileiro na era pré-Pelé, o famoso Expresso da Vitória, nosso assunto de hoje.

  

Principais Jogadores


Antes do sucesso, foram necessárias muitas contratações para montar esse grande time.  Em 1942 veio Ademir de Menezes, o maior jogador dessa equipe; em 43 os três patetas, como eram conhecidos Lelé, Jair e Isaias, além de Chico e Friaça; em 44 Ipojucan, até que nesse ano a equipe Vascaína conquistou seus primeiros títulos. A diretoria cruzmaltinha não se acomodou, pelo contrário, continuou fazendo boas contratações, que deixaram a equipe cada vez mais forte, chegando ao ponto de oito jogadores da seleção brasileira na Copa de 50, seis dos quais titulares, atuarem pelo Vasco.  Abaixo falamos brevemente sobre alguns dos principais jogadores do Expresso da Vitória.

Ademir de Menezes: O "queixada", como era conhecido, veio para o clube proveniente do Sport Recife. Devido a sua velocidade e precisão no chute com ambas as pernas, era um pesadelo para zagueiros e goleiros adversários. Foi o artilheiro da Copa do Mundo de 1950 com 9 gols (algumas fontes indicam 8). Além de ganhar muitos títulos com o Expresso, teve uma breve passagem pelo Fluminense em 1946 e 47, ganhando o Carioca também com a equipe tricolor. Em 1956 voltou para o Sport, saindo do Vasco como o maior artilheiro do clube até então, tendo anotado 301 gols, superado décadas depois por Roberto Dinamite.

Barbosa: O goleiro Moacir Barbosa veio para o Vasco do Ypiranga, de São Paulo, pois este clube se recusava a vendê-lo para algum rival local, a fim de não ter que jogar contra ele. Apesar de ter apenas 1,74m, foi um dos melhores goleiros do Brasil em todos os tempos. Infelizmente teve a sua carreira marcada por sofrer o gol de Ghiggia na Copa de 50, e acabou sendo considerado o culpado pela derrota do Brasil. Chegou ao Expresso em 45, e em 46 já era titular. Segue um trecho de Armando Nogueira a respeito deste grande goleiro. "Certamente, a criatura mais injustiçada na história do futebol brasileiro. Era um goleiro magistral. Fazia milagres, desviando de mão trocada bolas envenenadas. O gol de Ghiggia, na final da Copa de 50, caiu-lhe como uma maldição. E quanto mais vejo o lance, mais o absolvo. Aquele jogo o Brasil perdeu na véspera."

Augusto: Se o Brasil não tivesse perdido para o Uruguai naquele fatídico jogo, seria o zagueiro Augusto que levantaria a taça de Campeão do Mundo. Rápido e bom marcador, foi capitão também no Vasco, conseguindo a vaga na seleção em 1947, dois anos depois de chegar ao Expresso.

Lelé: Dos três patetas foi o que jogou durante mais tempo no Expresso, ficando de 43 a 48. Possuia um forte chute, que lhe rendeu o apelido "Canhão da Colina" com a perna direita, e assim marcou 147 gols pelo Vasco, 13 no Carioca de 1945, em que foi artilheiro. Sua popularidade era tão grande que ele foi homenageado por uma marchinha de carnaval em 46, que continha os dizeres:

Vamos lá!
Que hoje é de graça
No boteco do José
Entra homem, entra menino
Entra velho, entra mulher
É só dizer que é vascaíno
E amigo do Lelé

Danilo Alvim: O volante Danilo Alvim foi mais um jogador do Expresso titular na Copa de 1950. Por seu estilo refinado de jogo recebeu o apelido de "Príncipe", tendo jogado pelo Vasco entre 1946 e 54, quando saiu para o Botafogo.

Chico: O ponta esquerda Chico jogou no Vasco entre 42 e 54, sendo também titular na Copa de 50, na qual marcou 4 gols. Destacava-se principlamente pela habilidade e velocidade com que jogava, além de finalizações e cruzamentos precisos.

Ipojucan: Embora fosse bastante alto, medindo 1,90m, Ipojucan era um meia habilidoso, que gostava de fazer malabarismos com a bola. Autor de 225 gols pelo Vasco, onde jogou entre 1944 e 1954, é, ainda hoje, o quinto maior artilheiro do clube. Foi pré-selecionado para a Copa de 50, mas acabou cortado.

Friaça: O ponta Friaça teve duas passagens pelo Vasco, entre 1944 e 49 e entre 51 e 54. Na seleção, jogou a Copa de 1950 após o corte de Tesourinha, e marcou o gol que teria sido o tento do título se o Uruguai não tivesse virado o jogo.

Maneca: Jogou no Vasco entre 1947 e 55. Era meia, mas atuava também na ponta direita, como fez em alguns jogos da Copa de 50 (acabou ficando de fora da final por lesão). Tinha grande qualidade nos dribles curtos, tanto que chegou a aplicar uma caneta em Obdulio Varela, capitão da seleção uruguaia, em amistoso contra o Peñarol no ano de 1951.

Outros: O Expresso contou ainda com outros craques, que, incluindo nomes até tecnicamente melhores do que alguns dos jogadores citados anteriormente, mas que tiveram passagens mais curtas pela equipe vascaína. Como ficaria muito longo falar sobre todos eles, fica aqui a nota de que o Vasco entre 1944 e 52 contou ainda com jogadores como Jair,  titular do Brasil em 50, que a época já não era do Vasco, Tesourinha, cortado do mundial por contusão, e Heleno de Freitas, um dos maiores jogadores do Brasil em todos os tempos, além de Bellini (quem em 58 faria o que Augusto quase conseguiu 8 anos antes, ao levantar a taça da primeira Copa do Brasil).

Alguns craques do Expresso. Na primeira coluna, Ademir, com sua proeminente queixada, além de Barbosa; na segunda Danilo Alvim e Ipojucan; na terceira, Friaça, Heleno de Freitas e os "três patetas".

1944-50: O Auge

Já em 1943 o Vasco demonstrou força com uma boa campanha no Carioca, ficando a 4 pontos do campeão Flamengo (lembrando que na época a vitória valia 2 pontos). No ano seguinte, os primeiros títulos: o Torneio Municipal e o Torneio Relâmpago, que eram como preliminares do estadual. Apesar disso o Expresso acabaria perdendo este último campeonato para o rival Flamengo, após ser derrotado por este com um gol controverso marcado pelo ponta Valido (ainda hoje há quem discuta se esse gol deveria ou não ter valido).  Isso era apenas o presságio do que viria em seguida.

Em 1945 a linha de ataque vascaína, comandada por Lelé, produziu não menos do que 58 gols em 18 partidas para levar o Vasco ao título carioca invicto. A campanha dessa conquista incluiu 13 vitórias e 5 empates.

Em 1946 a direção vascaína acabou vendendo Ademir de Menezes ao rival Fluminense, e, em um torneio marcado pelo equilíbrio o tricolor acabou se sagrando campeão com 25 gols do Queixada, enquanto a Equipe da Colina teve de se contentar com o modesto quinto lugar. Após esse resultado o Expresso mudou de "maquinista", trazendo o técnico Flávio costa, que anos antes havia vencido três cariocas em série com o Flamengo.

Os resultados com o novo comandante foram incríveis: o Vasco ganhou mais um Carioca invicto, dessa vez com 17 vitórias, 3 empates e 68 gols marcados. Essa conquista rendeu ao Expresso a vaga no torneio de maior importância histórica que essa equipe venceria: O Campeonato Sul-Americano de Campeões.

A competição organizada pelo Colo-Colo em 48, reunia campeões nacionais de diversos países, tendo o Vasco sido chamado por ganhar "o campeonato mais famoso do Brasil". Entre as equipes participantes destacam-se o River Plate, que contava com craques como Di Stéfano, além do Nacional e do Colo-Colo, campeões em seus respectivos países, sem falar no Vasco, que faturou o troféu.

O Expresso chegou à competição no seu melhor momento até então. Contava novamente com Ademir de Menezes, que havia regressado ao clube. Além disso, o técnico Flávio Costa havia implantado a importante alteração tática que ele mesmo chamou "Diagonal", formação precurssora do 4-2-4, que era um 3-2-2-3 (3 zagueiros, 2 jogadores de meio, 2 atacantes mais recuados (um deles ligeiramente mais adiantado, posição na qual o Queixada foi colocado, para tirar proveito de sua velocidade e boa finalização) e 3 outros atacantes mais adiantados. Tal formação representou uma importante atualização no futebol brasileiro, que era atrasado nesse aspecto, sendo essa uma das razões pela qual o Brasil já não vencia nenhum torneio desde 1922.

O Vasco iniciou a competição com duas vitórias; 2 a 1 no Litoral (time boliviano) e 4 a 1 no forte Nacional. Todavia Ademir fraturou seu tornozelo no segundo jogo, razão pela qual perdeu o restante da competição. Mesmo sem contar com sua principal estrela no ataque, a equipe cruzmaltina se manteve invicta na competição, com mais duas vitórias e um empate. Dessa forma o Expresso chegou na última rodada um ponto a frente de "La Maquina", como era chamado o River Plate, e a tabela colocava os dois times frente a frente para decidir o torneio.

Vasco e River Plate fizeram uma grande partida, com boas oportunidades de gol para os dois lados, mas os goleiros impediram que o placar mudasse. O jogo complicou para a equipe brasileira quando a arbitragem marcou um penalti para os argentinos. Labruna cobrou rasteiro e Barbosa defendeu. O placar continuou zerado até o fim do primeiro tempo.

A etapa complementar também foi aberta, e Chico marcou o gol do Vasco, mas a arbitragem anulou alegando impedimento. A partida começou a se direcionar a favor do River, quando Maneca e Wilson, que estavam sendo importantes ao ajudar a marcar o jovem Di Stéfano, deixaram o campo contudidos e Chico foi expulso, junto ao adversário Mendez.

Sentindo que o adversário estava enfraquecido, "La Maquina" se pôs a funcionar, e o Expresso foi pressionado, mas lá atrás estava Barbosa. O goleiro, que havia sofrido apenas três gols ao longo do torneio, frustrou a linha de ataque formada por Di Stéfano, Ferrari, Moreno e Muñoz, e a partida terminou mesmo sem gols. Anos depois esse torneio vencido pelo Vasco daria origem a UEFA Champions League, e em seguida à Copa Libertadores da América.

De volta ao Brasil, o Expresso fez mais uma campanha incrível no Campeonato Carioca, chegando a última rodada com 17 vitórias e duas derrotas, mas "saiu do trilho", contra o Botafogo, sendo derrotado por 3 a 1. Esse resultado levou o Vasco a perder o título Carioca para o clube da estrela solitária, mas deve ter sido um estímulo para a diretoria, porque após isso foram contratados Heleno de Freitas e Tesourinha a equipe formaria sua linha de ataque mais forte para a temporada seguinte.

E com esse time o Vasco conseguiu em 1949 nada menos que a melhor campanha do Expresso no Carioca do ano seguinte, com 18 vitórias, 2 empates, 84 gols marcados e mais um título de forma invicta, numa campanha que incluiu um 5 a 2 contra o Flamengo, depois de estar perdendo por 2 a 0 para o rival. A equipe naquele ano daria ainda mostras de sua força naquele ano ao vencer o Arsenal, que havia sido campeão inglês em 48 e fazia uma excursão ao Brasil em 49 (e já havia vencido o Corinthians e um combinado de Botafogo e Fluminense).

Tudo isso fez com que o Vasco chegasse a Copa de 1950 com o posto de melhor equipe do país, e, naturalmente a base da seleção brasileira na competição (tentando repetir o sucesso da Copa América no ano anterior). Todavia é preciso dizer que a escolha de Flávio Costa para o torneio contribuiu para que a predominância de jogadores que atuavam ou tinham jogado no Expresso fosse ainda maior, pois ele negligenciou muitos grandes jogadores que atuavam, por exemplo, no estado de São Paulo.

 A Copa de 50 e o Maracanaço


Apesar da convocação ter sido, até certo ponto, bairrista, o futebol carioca era tão forte que mesmo sem contar com alguns jogadores que poderiam ter sido muito úteis de outros estados, a seleção brasileira fez uma campanha incrível. Na primeira fase a seleção marcou 8 gols e sofreu apenas 2, conseguindo a vaga para o quadrangular final.

Na segunda fase o Brasil atropelou a Espanha e a Suécia, goelando por 6 a 1 e 7 a 1, respectivamente. Naturalmente essa situação gerou uma grande onda de otimismo em torno da seleção, afinal bastava um empate contra o Uruguai (que havia ganhado no sufoco da Suécia e empatado com a Espanha). No entanto todos passaram da conta na empolgação.

Veja os gols da Vitória do Brasil contra a Suécia. Ademir fez 4.

Aqui os gols na vitória contra a Espanha.

Foi feita uma música para comemorar a conquista do Brasil, além disso os jornais estampavam fotos da equipe brasileira aclamando-a como campeã, e até as medalhas de ouro haviam sido feitas com os nomes dos jogadores da seleção canarinho impressos. Como ocorreu em outros momentos na história do futebol, esse clima de "já ganhou", só produziu duas coisas: motivação para o Uruguai e "salto alto" para o Brasil (sim, porque era impossível que os jogadores não se contagiassem, ainda que incoscientemente, com todo aquele otimismo exagerado).

Esperando ver mais um show da seleção brasileira, um público estimado em mais de 200000 torcedores (cerca de 173850 pagantes) foi ao Maracanã, mas já dava para notar que algo era diferente naquela partida: o primeiro tempo terminou sem gols. Apesar disso, pareceu durante alguns momentos que as expectativas populares iam se realizar, pois, aos dois minutos da segunda etapa, Friaça abriu o placar.

O capitão uruguaio, Obdulio Varela, que realmente mostrou ser um grande líder, passou mais de um minuto reclamando de impedimento no gol brasileiro, o que serviu para "esfriar" o jogo e a multidão (posteriormente ele mesmo confirmaria que esse havia sido seu objetivo). O Brasil diminuiu o ritmo e o Uruguai cresceu. Aos 21 minutos, Ghiggia veio pela ponta direita e passou para Schiaffino empatar.

Era apenas o começo do pesadelo: 13 minutos depois do primeiro gol, Ghiggia novamente conseguiu escapar pela direita, e chutou. A bola foi entre Barbosa, que havia se posicionado esperando um cruzamento, e a trave, da qual o goleiro brasileiro havia se afastado.

Ademir ainda teria uma chance para empatar, mas Roque Máspoli defendeu, o jogo acabou 2 a 1. Foi a maior derrota do esporte brasileiro em todos os tempos.

Breve vídeo falando sobre o Maracanazo

1950-52: O Fim do Expresso


Após a Copa do Mundo de 1950 o Vasco sofreu um grande desgaste psicológico, afinal era a base da seleção. Apesar disso o time se manteve competitivo nos meses subsequentes ao Maracanaço. Mais uma vez o Expresso da Vitória venceu, com mais uma campanha brilhante, o Campeonato Carioca: 17 vitórias e 3 derrotas, marcando 74 gols e tomando apenas 21.

Já no ano de 1951 o Vasco teve a oportunidade de se "vingar" de muitos jogadores que atuaram no Maracanaço, ao vencer por 3 a 0 um amistoso com o Peñarol, base da seleção uruguaia, gols de Friaça, Ademir e Ipojucan . Duas semanas depois as equipes voltaram a se enfrentar, com nova vitória cruzmaltina, dessa vez por 2 a 0. Ainda naquele ano o Expresso também derrotaria o Nacional, que praticamente completava a equipe Celeste, por 2 a 1. A ocasião era a Copa Rio Intercontinental, e com esse triunfo o Vasco chegou a 20 partidas internacionais sem perder.

Todavia a equipe já dava sinais de enfraquecimento no ano de 1951, realizando campanhas relativamente ruins no Torneio Rio-São Paulo e no Carioca. Por essa razão o Expresso da Vitória chegaria a temporada seguinte desacreditadao, tido como um time envelhecido.

O Expresso começou a mostrar que ainda tinha forças e era uma das melhores equipes do país no Torneio Rio-São Paulo de 1952, fazendo uma grande campanha, mas acabaria perdendo o título para a Portuguesa. A equipe ensaiava seu último acorde: no Campeonato Carioca daquele o Vasco fez uma excelente campanha, como nos tempos em que o time estava no auge: campeão com uma rodada de antecedência com 17 vitórias, 2 empates e 1 derrota.

O Carioca de 1952 marcou o último título da equipe considerada até hoje a maior da história do Vasco, e uma das maiores do Brasil. Após isso o time foi renovado, dando oportunidade a alguns jogadores mais jovens, que formariam também um grupo forte.

O Expresso em Números


Organizamos uma tabela com estatísticas do Expresso da Vitória nas principais competições que a equipe disputou. Não foi possível fazer um levantamento abrangente e preciso sobre os amistosos; além disso, cabe a ressalva que torneios como "Início do Campeonato Carioca" foram desconsiderados, uma vez que as partidas tinham durações reduzida. Todos os números apresentados foram conferidos várias vezes em fontes diferentes, mas, caso ainda exista algum erro, peço desculpas.

Preliminares incluem os Torneios Municipal e Relâmpago; Internacionais, que foram colocados juntos do Rio São-Paulo incluem o Sul-Americano de 48 e a Copa Rio de 51.


Analisando essa tabela temos evidências de quão genial essa equipe era: o percentual de vitóras supera 68,6%.  A média de gols marcados por partida é de quase 2,91; a de sofridos ultrapassa por pouco 1,31 (pode não parecer tão bom hoje, mas considerando a época é impressionante), tudo isso em um espaço de 8 anos. 

Olhando apenas para os anos de 1949 e 1950, que foram os melhores do Expresso, vemos que nesse período o percentual de vitórias beira 83%, enquanto o de derrotas mal passa de 8,5%. Combinando esses dados com a média de 3,75 gols marcados por partida contra 1,21 sofridos, e mais os títulos conquistados, vemos que não seria nenhum disparate pensar nessa equipe como a mais forte da história do Brasil, embora eu não ache que seja. De qualquer maneira, é indiscutível que foi  um excepcional esquadrão.

A Equipe do Vasco, campeão em 1949. Foi a melhor campanha do Expresso.



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