Antes de começar a falar sobre a melhor equipe montada pelo time do meu coração em todos os tempos, gostaria de fazer algumas considerações sobre o título do post. Primeiramente, muitos dirão que o chamado esquadrão do Corinthians na década de 50 acabou em 1954.
De fato, nesse ano o timão, que na época ainda nem tinha esse apelido, ganhou seu último paulista antes do famoso jejum de 23 anos. Todavia, é preciso lembrar que a equipe continuou competitiva nos anos seguintes, embora já sem a mesma força. Os feitos do Corinthians entre 55 e 57 incluem, além de boas campanhas no estadual, a conquista do Torneio Internacional Charles Muller (1955) e da Copa do Atlântico (1956). Por essa razão eu acredito que seria mais coerente pensar nesse esquadrão realmente acabando em 1957, quando Cláudio, Baltazar e Carbone deixam o time.
Outro ponto do título que merece uma explicação é a referência ao Time de Ouro da Hungria. Estabelecer esse paralelo entre a equipe do Corinthians e os Mágicos Magiares me pareceu uma boa homenagem ao esquadrão alvinegro pelas razões explicitadas abaixo.
A Hungria, que entre 50 e 54 dominou o futebol mundial, a nível de seleções, ficou por incríveis 31 ou 32 jogos sem perder (já vi textos indicando ambos os números, mas acredito que foram 31). De qualquer forma, o Corinthians, que entre 50 e 54 mostrou ser um dos mais fortes times do mundo vencendo vários torneios, não ficou atrás, pois conseguiu ficar 32 jogos invicto contra equipes estrangeiras. Feitas essas explicações iniciais, vamos falar sobre os jogadores e títulos dessa equipe alvinegra.
Principais Jogadores
Essa equipe do corinthians tinha uma interessante mescla de jogadores raçudos e craques, além de jogadores experientes e jovens, o que fazia o conjunto funcionar muito bem. Abaixo falamos sobre as principais peças alvinegras no período.Gylmar: A frase "um grande time começa com um grande goleiro" certamente se aplica a essa equipe do Corinthians e ao Santos de Pelé, uma vez que ambos contaram com Gylmar dos Santos neves, praticamente uma unanimidade quando se pergunta quem é o melhor do Brasil nessa posição. Ele chegou ao Timão em 51, permanecendo por 10 anos, e de todos os jogadores alvinegros dessa época, foi o de maior relevância para a seleção, vencendo as Copas de 58 e 62. Com a camisa alvinegra, seu melhor momento foi na conquista do título do Paulista de 1954 quando garantiu o empate na decisão contra o Palmeiras. Tão destacada foi a sua atuação que após esse jogo a torcida alvinegra começou a chamá-lo de "Supremo Guardião do Campeão do Centenário", já que naquela ocasião a cidade completava 400 anos.
Roberto Belangero: "Um dos maiores jogadores, que eu vi bater mais bonito na bola, foi Roberto Belangero." Não, eu não posso dizer isso, porque infelizmente não tive o privilégio de ver esse craque jogar; essa frase é de ninguém menos que Nílton Santos. Roberto Belangero era um volante, o melhor da história do Corinthians, segundo muitos. Dono de uma elegância ímpar, ele era o principal articulador das jogadas de ataque dos Magiares do Brasil, mas nem por isso deixava de marcar, desempenhando também essa função, com muita raça. Serviu a Seleção em muitas oportunidades, mas acabou sendo cortado da Copa de 54 por uma opção no mínimo discutível do técnico e em 58 também ficou de fora do mundial, desta vez por contusão.
Baltazar: Se a Hungria tinha Kócsis, o "homem da cabeça dourada", o Corinthians tinha Baltazar, o "cabecinha de ouro". Oswaldo Silva chegou ao timão em 45, como meia-direita, mas mudou para centroavante algum tempo depois. Dizia ele que não era muito bom com a bola nos pés, mas com a cabeça era superior até a Pelé. Ainda hoje é o segundo maior artilheiro da história do Corinthians, com 267 gols, 71 dos quais de cabeça (se bem que seu busto no Pacaembu fala em 150). Pela seleção tem a boa marca de 17 gols em 31 partidas, tendo jogado as Copas de 50 e 54. Foi homenageado na marcha de carnaval "gol de Baltazar", que dizia:
Gol de Baltazar,
Gol de Baltazar,
Salta o "Cabecinha",
Um a zero no placar.
(bis)
O Mosqueteiro,
Ninguém pode derrotar,
Carbone é o artilheiro espetacular,
Cláudio, Luizinho e Mário,
Julião, Roberto e Idário,
Homero, Olavo e Gilmar,
São os onze craques,
Que São Paulo vai consagrar.
Cláudio: Creio que poucos times tenham contado com seus dois maiores artilheiros ao mesmo tempo. O Corinthians é um desses times, tendo contado, além de Baltazar, com Cláudio, autor de 306 gols pelo clube. Era um ponta tecnicamente perfeito: preciso nos dribes curtos, rápido e capaz de colocar a bola onde quisesse, estivesse ela rolando ou parada, fosse para um cruzamento ou um chute. Além de ter anotado mais tentos do que qualquer outro com a camisa do timão, o gerente, como era chamado, ajudou a consagrar seus colegas de ataque, com suas assistências (Baltazar aproveitou mais que qualquer outro). Pela seleção participou da conquista da Copa América em 1949, marcando 3 gols em 2 jogos (Tesourinha, que era o titular, marcou 7 gols nas outras 5 partidas do Brasil). Era um nome dado como certo na Copa de 50, ainda mais depois do corte de Tesourinha, mas Flávio Costa, em gritante exemplo de seu bairrismo, não o levou para o torneio.

Idário: Se eu dissesse que durante uma partida de futebol, em um único lance, um ponta esquerda driblou um lateral direito 14 vezes, você, leitor, ficaria mais impressionado pela participação de qual dos dois atletas na jogada? Eu acho mais inacreditável o que fez o defensor; que certamente era muito inferior ao adversário em termos técnicos, mas teve uma raça incrível para não desistir do lance em momento algum. Essa sequência de fintas foi realizada por Canhoteiro do São Paulo em Idário do Corinthians. Idário certamente não era nenhum craque, mas sua raça e amor a camisa fazem com que ele seja lembrado até hoje como o jogador mais raçudo da história alvinegra, sendo autor de frases como "não jogo por dinheiro, jogo por amor ao Corinthians", e chamado ainda hoje de "Deus da Raça" pelos torcedores do timão.
50-54: A Era de Ouro
Após uma campanha fraca no Campeonato Paulista de 1949 a palavra de ordem no Corinthians era renovação. Por essa razão, no Torneio Rio-São Paulo de 1950, a equipe alvinegra deu chance a uma geração de garotos vindo de uma boa geração da base, dentro os quais, Luizinho, Roberto Belangero e Idário, e ainda outros que não foram aproveitados, como, vejam que curioso, Julinho Botelho (que seria ídolo no Palmeiras, além de fazer quatro gols contra o próprio Corinthians em um dos primeiros jogos de Gylmar no alvinegro, quando defendia a Portuguesa).
O Torneio Regional voltava a ser realizado após 17 anos (oficialmente), ou 8, dependendo da fonte (algumas consideram a competição "Quinela de Ouro" de 1942 como um Rio-São Paulo), e passaria a ser disputado anualmente após aquela edição. O certame se tornou ainda mais valorizado quando a CDB colocou em jogo o título honorífico de Campeão Honorário do Brasil.
Apesar de contar com o esboço do maior time de sua história, parecia que o clube alvinegro teria mais uma campanha ruim: na estreia foi goleado pelo Flamengo, por 6 a 2. Todavia, houve tempo para que a equipe se recuperasse, e após vencer dois clássicos, contra São Paulo e Palmeiras, o Corinthians se projetava como candidato ao título.
A oportunidade para assumir a ponta da tabela surgiu no confronto contra o favorito ao título, a equipe extremamente forte do Vasco da Gama, que havia acabado de conquistar o Campeonato Carioca marcando não menos que 84 gols. Com o Pacaembu lotado e tendo sido jogada, imagino eu, uma partida incrível, o Corinthians saiu vitorioso, pelo placar de 2 a 1, gols de Cláudio e Baltazar.
O time campeão em 1950. Em pé: Luizinho, Nelsinho, Belfare, Hélio, Idário, Baltazar, Touguinha e Nilton. Agachados: Noronha, Cláudio e Bino.
Após esse decisivo e inesperado triunfo, a equipe alvinegra ganhou moral no torneio, e com mais duas vitórias, sobre Fluminense e Portuguesa, chegou a última rodada precisando de apenas um empate para garantir o título. Foi exatamente o que aconteceu, tendo a partida contra o Botafogo terminado 1 a 1. Baltazar foi o artilheiro da competição com 9 gols.
Essa conquista, do Rio-São Paulo, deu uma bela mostra do potencial daquela equipe, que teria belos momentos na sequência, como uma vitória contra um combinado uruguaio que contava com muitos jogadores que haviam vencido a Copa meses antes, mas não houve uma sequência de conquistas imediata. Nas duas competições seguintes, o Paulista de 1950 e o Rio-São Paulo de 1951, o Corinthians fez boas campanhas, mas viu o rival Palmeiras levantar ambas as taças.
Após perder esses títulos a equipe alvinegra sentiu a necessidade de se reforçar, e foi às compras, fazendo algumas contratações. Os reforços incluiam o goleiro Gylmar, o meia Carbone (que logo em seu ano de estreia seria artilheiro do Paulista) e o ponta-esquerda Mário (jogador tido ainda hoje como um dos maiores dribladores da história do clube, que daria origem a lendas por "não gostar" de marcar gols), e com esses jogadores o Corinthians vai chegar ao seu melhor momento.
No primeiro campeonato disputado com os novos reforços, embora Gylmar ainda estivesse no banco, o Corinthians fez uma campanha arrasadora no Paulistão de 1951. A equipe marcou 103 gols em 28 jogos, sendo essa a primeira vez em que um time superou a marca de 100 gols dentro do regime profissional no futebol brasileiro.
As principais estrelas do Corinthians na competição.
Com um ataque tão poderoso, o Corinthians não teve dificuldades para levantar a taça, terminando 7 pontos a frente do segundo colocado (lembrando que na época a vitória valia dois pontos). Na última rodada, já com o título assegurado, a equipe alvinegra bateu o Palmeiras por 3 a 1, tendo Luizinho marcado de letra o terceiro gol. Após essa conquista o timão foi excursionar no velho continente, e fez a maior exibição do futebol brasileiro na Europa até então.
É verdade que os Magiares do Brasil acabariam sendo derrotados pelo Besiktas logo na primeira partida da excursão, por 1 a 0, mas na sequência venceram 12 partidas e empataram 3. A excelente campanha no Velho Continente renderia ao Corinthians o título honorífico Faixa de Ouro do Futebol Brasileiro.
Pontos altos da excursão incluem uma goleada contra a Seleção de Gotenburgo por 9 a 3, além de um triunfo por 2 a 1 (os jornais disseram que o Corinthians merecia um placar mais elástico) contra o Malmo, então bicampeão sueco; o primeiro tento da partida foi um golaço de Luizinho, marcado após o mesmo driblar vários adversários e tabelar com Carbone. Também o vice-campeão da Suécia, o Djugarden, teria a oportunidade de jogar contra o Corinthians, e o resultado foi mais vitória alvinegra, desta vez por 3 a 2.
Vídeo histórico com imagens de dois dos jogos corinthianos na Suécia. Antes que alguém questione a qualidade dos adversários, gostaria de lembrar que o futebol sueco era forte, vice-campeão do mundo em 58, terceiro colocado em 50.
Na última partida antes de voltar para o Brasil, o Corinthians conseguiu o placar mais elástico da excursão, ao bater a seleção de Halmstad por 10 a 1, com destaque para o quinto gol, marcado por Cláudio, fruto de uma tabela do mesmo com Luizinho, iniciada na região central do campo, além do sétimo, marcado pelo Pequeno Polegar após driblar vários jogadores suecos. Os autores dos tentos mencionados são considerados os inventores da tabela por parte da imprensa esportiva.
Equipe do Corinthians antes de uma partida. Não poderia deixar de notar que Luizinho aparece sentado na bola, nesta imagem.
De volta a São Paulo, os jogadores alvinegros foram recebidos por cem mil pessoas no aeroporto de Congonhas, dentre os quais se encontravam tanto corinthianos quantos torcedores rivais. Foi quando tiveram uma noção maior da dimensão do que havia feito:
- A emoção que me invade o coração é das maiores. Nunca poderia esperar que fossemos ter uma recepção tão grandiosa. Isso quer dizer que o povo ficou satisfeito com a nossa campanha. - Disse Luizinho.
- Melhor do que qualquer palavra, fala a nossa campanha. - Sintetizou Cláudio.
A primeira competição a ser disputada pelo Corinthians em seu retorno ao Brasil seria a Copa Rio Intercontinental, e o timão fez uma grande campanha, chegando à final com 100% de aproveitamento, inclusive vencendo o Peñarol (base da seleção uruguaia) no caminho.
Todavia, devido a violência da equipe uruguaia, o Corinthians acabou perdendo três jogadores titulares, dentre eles Baltazar, e Roberto Belangero, que, como vocês devem lembrar, era o cérebro do time. Sem jogadores dessa importância, enfrentando o forte Fluminense em duas partidas no Maracanã, o alvinegro acabou perdendo o título (poderia ter acontecido sem os desfalques, embora fosse menos provável)
A equipe não se abalou, e chegou forte para já no mês seguinte disputar a Taça Cidade de São Paulo. O troféu ficaria em definitivo com a equipe que vencesse a competição cinco vezes, e tanto o Palmeiras quanto o Corinthians já haviam vencido o certame quatro vezes. Na última partida da edição de 1952, estariam os dois rivais frente a frente. A equipe alviverde precisava vencer o seu rival para forçar partidas de desempate, enquanto o timão precisava apenas de um empate para se sagrar campeão. Todavia, os alvinegros não precisaram da vantagem que os resultados anteriores lhes davam.
Cartaz de divulgação do jogo.
Com a bola rolando o Corinthians goleou o Palmeiras por 5 a 1, sendo Carbone, autor de 3 gols, o destaque da partida ao lado de Luizinho, que marcou um dos tentos alvinegros, além de impor um verdadeiro baile à defesa rival. Nessa partida o Pequeno Polegar, aplicou seguidas fintas desconcertantes no volante Luiz Villa, que caiu no chão; segundo as testemunhas o corinthiano então sentou na bola para esperar que o marcador se levantasse para driblá-lo novamente.
O craque nunca admitiu ter feito tal coisa, mas também não desmentiu, dizendo que "garoto novo não tem juízo" ou "devo ter escorregado e caí sentado na bola", e ainda "o Villa era um bom sujeito, se fosse outro, tinha me quebrado". Certo mesmo é que sua atuação foi genial, virando manchete até mesmo no jornal mundo desportivo, que sobre ele escreveu: “Com sua fenomenal intuição malabarística, com raciocínios lampejantes e pernas que seguem o ritmo que lhes impõe o cérebro, quando acerta, quando a massa encefálica está fresca e criadora, é irresistível”.
Após isso o Corinthians entrou no Campeonato Paulista com grande favoritismo, e como contava com a mesma base do ano anterior, o sonho de novamente ultrapassar a marca de 100 gols não parecia impossível. O timão bem que tentou, mas não conseguiu repetir a façanha do ano anterior. Mesmo assim foi campeão antecipadamente, 6 pontos a frente do segundo colocado, marcando 89 gols, 27 deles feitos por Baltazar, artilheiro do torneio.
Dentre os grandes jogos da campanha, destacam-se a emocionante vitória por 6 a 4 contra o Palmeiras, com 3 gols de Cláudio e 2 de Baltazar. Outra partida espetacular foi virada contra o São Paulo, por 3 a 2 (o clube do Morumbi terminou o primeiro tempo vencendo por 2 a 0, mas o Corinthians, embora já tivesse garantido o título, buscou a virada).
Meses depois dessa brilhante campanha o Corinthians conquistou mais um grande título ao vencer o Rio-São Paulo em 1953. Isso fez com que o Corinthians chegasse com moral para a disputa do Torneio Octogonal Rivadavia Corrêa Meyer, que era o substituto da Copa Rio, mas acabou sendo surpreendido na semifinal pelo forte time do Vasco. Menos de um mês depois desta derrota o timão já se via disputando mais um mundialito.
Dessa vez tratava-se da Pequena Taça do Mundo. Além do próprio Corinthians, participaram do torneio o forte time da Roma, a Seleção de Caracas, além do já badalado Barcelona. Na época o clube catalão havia acabado de conquistar o bicampeonato espanhol e o tri na Copa do Rei, além de contar com vários jogadores da seleção espanhola, dentro os quais o naturalizado László Kubala, que em 1999, por ocasião do aniversário de 100 anos do Barça, foi eleito pela torcida o maior jogador da história do clube (que contou com Cruyff, Romário, Ronaldo...).
Os Magiares do Brasil não se importaram com o favoritismo do time espanhol, e, liderados por Cláudio e Luizinho, fizeram uma campanha irretocável, vencendo todos as seis partidas que jogaram, inclusive derrotando o Barcelona duas vezes, por 3 a 2 e 1 a 0. O Pequeno Polegar marcou 5 vezes, e ganhou um troféu por ser o artilheiro do torneio (este decoraria a sala de sua casa até o fim dos seus dias), enquanto o gerente recebeu o prêmio de melhor jogador da competição.
Na volta ao Brasil, reza a lenda que Alfredo Ignácio Trindade, então presidente alvinegro, teria perguntado aos jogadores se eles preferiam ser tricampeões estaduais em 53 ou vencer o Paulista no ano do aniversário de 400 anos da cidade, em 54. Os atletas teriam escolhido a segunda opção. Verdade ou mito, tenham os corinthianos levado essa escolha ou não a sério, o fato é que o timão fez uma campanha muito abaixo de suas capacidades no campeonato de 1953, ficando em terceiro lugar.
Na sequência o Corinthians já foi mostrando como seria o ano de 1954, começando o Rio-São Paulo com 6 vitórias. Todavia o time desandou, e perdeu os dois jogos seguintes, possibilitando que o Fluminense assumisse a ponta da tabela, e o Palmeiras empatasse com o Corinthians em número de pontos. Em função da derrota do clube carioca, quem vencesse o Derby Paulista se sagraria campeão do certame. Cláudio marcou o gol em um chute sem ângulo, e garantiu o bicampeonato do timão no torneio regional.
Terminado o Rio-São Paulo, quase não houve tempo para comemorar: se iniciaria o Paulista mais importante da história. Era o aniversário de 400 anos de São Paulo, razão pela qual todos os times se prepararam especialmente para o campeonato, que foi mais cobiçado que qualquer outra edição do estadual.
A competição foi bastante acirrada, com menos goleadas que os anos anteriores, e os times mais próximos uns dos outros na tabela. No final, Corinthians e Palmeiras despontavam como candidatos ao título. O alvinegro tinha a vantagem do empate, porque no primeiro turno havia vencido o Palmeiras, em um jogo semelhante a virada contra o São Paulo em 1952, só que dessa vez foram Luizinho (2x) e Baltazar os autores dos gols.
No jogo decisivo, Cláudio cobrou lateral para Rafael, que a essa altura já havia tomado o lugar de Carbone no time. O jovem meia devolveu e o gerente fez um cruzamento entre dois palmeireses, com a bola descendo a meia altura exatamente onde chegava o Pequeno Polegar. Luizinho cabeceou, a bola bateu na trave e entrou no gol palmeirense.
O Palmeiras tentava a reação, mas estava difícil, porque seu principal jogador, o grande Jair da Rosa Pinto estava sofrendo uma dura marcação de Roberto Belangero. Se estava difícil com a bola rolando, com ela parada o craque alviverde conseguiu criar uma chance em uma falta, e Nei empatou o jogo. A partir daí o Palmeiras passou a pressionar e esteve perto do gol em alguns momentos, mas lá atrás o Corinthians tinha Gylmar, e o goleiro garantiu o empate com uma atuação sensacional..
“Seria uma decisão como outra qualquer, mas com a diferença de que essa valia o título do Centenário de São Paulo. O Corinthians tinha a vantagem do empate, mas encontrou um adversário difícil. O jogo foi duro e bastante disputado. Logo no início fizemos 1 a 0. Depois, o Palmeiras reagiu e empatou. A partir daí, seguramos o resultado e fomos campeões. Todos queriam esse título, pois quem ganhasse ficaria com a glória para os cem anos seguintes.” - Gylmar, resumindo a partida.
Os gols e alguns lances da decisão entre Corinthians e Palmeiras
55-57: O Início do Jejum
Quis o destino que o Corinthians, mesmo contando com vários jogadores vitoroiosos no início da década, passasse os próximos anos sem conquistar o estadual ou o Rio-São Paulo. Aliás, a edição da competição regional que se seguiu ao título Paulista de 1954 foi um prenúncio de que tempos ruins viriam, pois apesar de ter um time forte o alvinegro fez uma campanha fraca.Os Magiares do Brasil buscariam a recuperação na temporada em mais uma competição internacional, o Torneio Internacional Charles Muller. Após uma ótima campanha, que incluiu mais uma vitória contra o seu arquirival, o Corinthians enfrentou na última rodada o Benfica, que tinha vencido tanto o Campeonato Português quanto a Taça de Portugal. Cláudio foi o grande nome do jogo, marcando os dois gols da vitória alvinegra, por 2 a 1, com destaque para o segundo gol.
Foi uma cobrança de falta perfeita, e, segundo o goleiro, a bola teve uma trajetória semelhante a da "folha seca" do mestre Didi. O lance ficou eternizado pela frase de Costa Pereira, goleiro português: "Eu estava na direção da bola, mas no meio do caminho ela fez uma curvita". O filho de Cláudio, que estava no estádio, lembrando do lance anos depois disse que naquela partida, seu pai batera uma falta tão perfeita, que a princípio o goleiro achou que tivesse ido para fora, para depois notar que ela tinha entrado.
Reerguido moralmente, o Corinthians fez uma grande campanha no Paulista de 1955, vencendo o Santos na penúltima rodada, o que embolou o campeonato, que chegou a sua última rodada com 3 times brigando pelo título. Mesmo vencendo o Palmeiras no último jogo, o timão acabou ficando com o vice-campeonato, uma vez que o Santos, ainda na ponta da tabela também venceu.
Esse seria o primeiro de uma série de 3 campeonatos em que o Corinthians se aproximou do título, mas ficou no quase, pois no ano seguinte o clube ficou com o terceiro lugar, e em 57 perdeu o título no confronto direto com o São Paulo. Nesse último cabe a ressalva de que Luizinho não pôde jogar a partida decisiva por força de contusão, o que levaria o grande Zizinho a dizer "O Corinthians tinha o Luizinho, graças a Deus que ele não jogou".
Antes que alguém me acuse de clubista, é claro que o São Paulo tinha um grande time, contava com Zizinho e Canhoteiro, poderia sim ter vencido caso o Pequeno Polegar jogasse, como o próprio jogador diz, mas não deixa de ter sido uma baixa importantíssima para o timão. Mas nem tudo foi tristeza para o Corinthians nesse ínterim.
Em 1956 o clube venceu a Copa do Atlântico de Clubes, competição organizada pelas confederações de futebol do Brasil, da Argentina e do Uruguai. Cada país enviou cinco representantes. O torneio se deu em formato de mata-mata, e o Corinthians eliminou Danúbio, Santos e São Paulo, se classificando para a final com o Boca Juniors.
Existe aqui uma pequena divergência entre fontes, mas o que aconteceu foi o seguinte: o Boca desistiu da final, que seria uma melhor de 3 entre os clubes. A justificativa teria sido uma suposta injustiça no regulamento, que previa que o terceiro jogo seria disputado no Pacaembu, se necessário. A discordância entre os historiadores se dá porque alguns alegam que a equipe argentina teria ainda jogado o primeiro jogo em La Bombonera, sido derrotada por 3 a 2 e aí desistido do torneio, enquanto outros afirmam que nenhuma das partidas foi disputada. Não sei ao certo o que aconteceu.
Publicação a respeito da Copa do Atlântico
O fato é que foi uma importante conquista alvinegra, considerada pela IFFHS como uma das inspirações para a criação da Libertadores, ao lado do Sul-Americano de 48 e da Copa do Rio da Prata. A federação internacional de história e estatística do futebol inclusive, coloca em seu site, a conquista com o mesmo peso de outras competições sul-americanas. Pessoalmente acho um certo desleixo da parte do Corinthians não procurar obter da Conmebol o mesmo tipo de reconhecimento que o Vasco conseguiu para o seu título de 48. Deixo claro que sou contra qualquer tentativa de considerar essa competição como uma Libertadores.
Outra conquista corinthiana no período em questão foi a Taça dos Invictos, oferecida pela Gazeta Esportiva. Embora pareça sem importância hoje, a época esse troféu, oferecido ao time que ficasse mais partidas invicto no paulista, foi bastante cobiçado, e foi sim um triunfo significativo.
Para conquistar o troféu em 1957, o Corinthians teve um emocionante confronto com o Santos de Pelé, empatando o jogo em 3 a 3 nos últimos minutos. Veja os lances desse jogo. Você pode ainda conferir uma entrevista com alguns jogadores alvinegros, após a conquista em 1956 (eu não consegui anexar), clicando AQUI.
Para faturar em definitivo a taça, entregue ao time que conseguisse a invencibilidade mais prolongada em dois anos, o Corinthians teve que obter a maior série sem derrotas em 56 e em 57, chegando a 25 e 35 jogos sem perder, respectivamente. Na segunda ocasião o jogo decisivo foi um confronto com o Santos de Pelé, que vencia e impedia o timão de obter o troféu até os 43 minutos do segundo tempo, por 3 a 2, com 3 gols do Rei, até que Paulo empatou e garantiu a conquista alvinegra.
Após esse período os jogadores remanescentes do começo da década foram deixando o clube e a fila, ficando mais evidente, sem outros títulos relevantes para atenuar a falta de estaduais.
Os Magiares em Números
Assim como fizemos em nossa postagem anterior, organizamos uma tabela acompanhando o desempenho do esquadrão nas prinicipais competições disputadas. O item "outros", inclui a Taça Cidade de São Paulo em 52, a Copa Rio de 52, o Octogonal Rivadavia em 53, o Internacional Charles Muller em 55, a Copa do Atlântico em 56, além da excursão à Europa em 52, que não é exatamente uma competição, mas devido ao êxito alcançado e a valorização popular, foi considerada no nosso levantamento. Caso haja algum erro, embora eu ache que não, me comuniquem para que eu possa corrigir os dados apresentados.
Vemos que se considerarmos o período de 50 a 57 o aproveitamento cai um pouco em relação ao resultado obtido quando se considera apenas o intervalo entre 50 e 54. Como era de se esperar uma equipe que faz muitos gols, já que contava com vários dos maiores artilheiros do Corinthians, e, para a época, forte na defesa, que teve seu melhor momento em 1954.
Considerando as partidas de 50 a 54, o timão tem a bela marca de 68% de vitórias e quase 2,7 gols por jogo. Esses números caem ligeiramente quando se analisa entre 50 e 57, enquanto que a média de gols tomados por partida se mantem estável e em torno de 1,4.
Vemos que em termos estatísticos, na Era de Ouro, os "Magiares do Brasil" ficam praticamente empatados com o Expresso da Vitória. Uma comparação entre os dois esquadrões seria demorada, com vários argumentos para cada um (os números dariam ligeira vantagem à equipe carioca, que na minha opinião é um pouco melhor), mas esse não é o propósito do texto.
A frase que iniciou o parágrafo anterior visa apenas indicar que embora muitos tentem diminuir ou desvalorizar essa grande equipe do Corinthians, ela no mínimo não fica muito atrás do mais reconhecido esquadrão brasileiro na era pré-Pelé (aliás, venceram esse adversário nas 3 vezes em que se encontraram, uma delas com o Expresso no auge). Certamente tem o seu lugar entre as 5 ou 6 melhores equipes do nosso país.
Mais alguns lances desse genial esquadrão, com destaque para um gol de Baltazar aos 30 segundos e alguns dribles de Luizinho, além de uma tabela do mesmo com Cláudio.

O Corinthians campeão em 51, melhor campanha alvinegra no estadual.
Postagem Relacionada
1. Outro grande esquadrão brasileiro da era pré-Pelé sobre o qual tivemos a oportunidade de falar foi o grande Expresso da Vitória, que entre outros feitos venceu o famoso Sul-Americano de 48 além de ser a base da seleção de 50. Clique AQUI para ler sobre essa equipe.
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Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirO Corinthians enfrentou o Vasco neste período e venceu mais jogos, portanto...
ResponderExcluirJosé Lucas Saraiva, meu nome é Maurício Sabará e te parabenizo pelo seu belo texto, um dos mais perfeitos que vi sobre o Corinthians dos anos 50. Não é escrito de forma fanática, mas sim de modo prático e esclarecedor. É muito bom saber da força de um grande time, conquistando tudo o que foi possível no seu tempo (só faltou a Copa Rio de 1952, que não aconteceu pelos motivos citados). Cito mais um fato importante, que é o tabu do qual o forte time corintiano impôs ao Palmeiras, que não conseguiram nos vencer no Campeonato Paulista de 1951 a 1958, o maior da história do clássico, sendo que a equipe deles também era muito boa. Eu, como corintiano, te elogio pelo seu belo trabalho. Na Rádio do Corinthians sou um dos apresentadores do Programa 100 Anos, que passa todas as segundas-feiras após as 18h30. Tenho que certeza que você irá gostar. E também fiz muitas entrevistas com antigos jogadores (de vários times) no Blog Futebol de Todos os Tempos. Cheguei a entrevistar o Nardo, Cabeção e o Julião, além do Jackson e Zague pela Rádio Coringão. Abração!
ResponderExcluirCraque!
ResponderExcluirOlá... Boa noite!
ResponderExcluir.
Você sabe qual era o número que o meia esquerda Carbone usava na camisa ??
Lucas Saraiva, por gentileza, você teria algum jornal ou revista que faz a citação de o Luizinho ser apontado como sucessor do Zizinho na Seleção Brasileira? Caso tenha, haveria a possibilidade de enviar para o e-mail arabas701@gmail.com, especificando a data caso não seja possível visualizá-la? Parabéns pela ótima matéria, da qual fiz questão de comentar em 26/02/2014!
ResponderExcluirAbraço