quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Mané Garrincha, a Alegria do Povo

Hoje vamos falar sobre Mané Garrincha, um gênio, um driblador sem igual que em toda a sua vida perdeu apenas uma partida pela Seleção Brasileira, contra a Hungria em 1966, e mesmo assim não é valorizado pela imprensa como merece. Abaixo um vídeo com lances incríveis do eterno Mané.

15 minutos de Garrincha. Boa parte dos lances nesse vídeo aparecerão novamente depois.

Manoel dos Santos, mais conhecido como Mané Garrincha, nasceu em Pau Grande, numa família de 15 irmãos. Sua perna direita era 6 centímetros mais curta que a esquerda, e ambas eram tortas, mas assim mesmo resolveu ser jogador de futebol. O começo foi difícil; Flamengo, Vasco e Fluminense não abriram as portas a Mané por causa de suas pernas.

Garrincha procurou o Botafogo em 1953 e rapidamente foi colocado diante de Nilton Santos, driblando-o repetidas vezes (teria até aplicado uma caneta) e o lateral pediu aos dirigentes do clube que contratassem o
Mané. Garrincha assumiu a ponta direita no Botafogo e rapidamente foi cogitado para a Seleção, mas acabou não sendo convocado para a Copa de 54.

Após mais alguns anos de grandes atuações Garrincha conquistou seu primeiro Campeonato Carioca em 1957. Apesar da conquista o mais provável era que ele não participasse da Copa do Mundo de 1958, sendo Júlio Botelho (Julinho), jogador da Fiorentina e Joel do Flamengo os mais cotados para sua posição.

Julinho acabaria recusando o convite da CBD para participar do mundial e o Mané pôde participar da competição.  Durante a preparação da Seleção para a Copa, Garrincha marcou um de seus gols mais famosos, após driblar 2 jogadores da Fiorentina, driblou também o goleiro e ao invés de chutar, driblou novamente um dos defensores que voltou para tentar impedí-lo de marcar e entrou com bola e tudo no gol.

Lance genial, certo? Sem dúvidas, mas além de habilidade o Garrincha demonstrou uma falta de seriedade da qual a comissão técnica da seleção não gostou e ele acabou não participando das duas primeiras partidas do Brasil na Copa.

Conclusão do golaço de Mané contra a Fiorentina, em 1958

O Brasil chegaria ao terceiro jogo com alguma chance de cair na primeira fase da competição, caso perdesse, e o jogo era contra um dos favoritos ao título: a União Soviética. Atendendo a pedidos de outros jogadores o técnico Vicente Feola mudou o time, colocando em campo, finalmente, Garrincha e Pelé, além de Zito.

O Brasil venceu a Rússia jogando uma partida lendária, principalmente nos primeiros três minutos (os melhores três minutos da história do futebol, como são geralmente chamados), em que Garrincha acertou a trave, e tocou para Pelé também acertar a trave, até que Vavá recebeu de Didi e abriu o placar. Vavá marcaria mais uma vez e o Brasil sairia com o 2 a 0. Seguem algumas frases sobre a atuação de Garrincha nesse jogo.

"Joel (inciou o mundial como titular) era um grande extrema. Mas Garrincha foi inigualável. Ele desmontou aquele esquema de ferro dos russos e desmoralizou a preparação científica de Moscou." - Bellini, zagueiro do Brasil em 58.
"Eu fazia o lançamento e tinha vontade de rir. O Mané ia passando e deixando os homens de bunda no chão. Em fila, disciplinadamente." - Didi, eleito o melhor jogador do torneio. 

Vídeo rápido falando sobre a atuação de Garrincha no jogo. "O resultado foi 2 a 0, mas o impacto de Garrincha no jogo foi muito maior."

O Brasil manteve Pelé e Garrincha no time para as quartas de final e venceu o País de Gales por 1 a 0, gol de Pelé. Mais uma vez Mané teve grande atuação, tanto que Mel Hopkins, seu principal marcador na ocasião diria: "Eu acredito que Garrincha era mais perigoso que Pelé na época, um fenômeno, capaz de pura magia."
Na semifinal o Brasil enfrentaria a França, que contava com Fontaine, artilheiro daquele mundial e Raymond Kopa que ganharia a Bola de Ouro naquele ano. Apesar disso o Brasil goleou por 5 a 2, com Pelé marcando três vezes e Garricha criando alguns gols pela ponta direita (incluindo o belo passe para Vavá abrir o placar). 

Lances de Garrincha contra a França (clique aqui para ser direcionado ao canal de onde eu tirei esse vídeo e outros).

O Brasil estava na final contra os anfitriões e começou perdendo graças ao tento de Liedholm, aos 4 minutos. Mas ali estava Garrincha, que ainda no primeiro tempo deixou Vavá duas vezes na cara do gol, e o centroavante não perdeu. O Brasil venceria com um novo 5 a 2, ganharia a Copa do Mundo pela primeira vez e Garrincha foi escolhido para a seleção do torneio.

Lances de Garrincha contra a Suécia.

Em seu retorno ao Rio de Janeiro Garrincha conquistaria seu segundo Campeonato Carioca em 1961 além do Torneio Rio-São Paulo de 1962 e  mais alguns títulos em excursões com o Botafogo pelo mundo, antes de chegar na Copa do Mundo de 1962. Nessa competição teria o melhor momento de sua carreira.

Garrincha teria uma boa atuação no primeiro jogo, mas nessa ocasião Pelé acabaria sendo o grande nome da partida com um gol e uma assistência. Na segunda partida da fase de grupos, um empate sem gols e o Rei se machucaria. Mané agora teria a responsabilidade de conduzir o Brasil ao título na condição de ator principal. 

Lances de Garrincha contra o México.

Melhores momentos de Brasil e Tchecoslováquia na fase de grupos. Aos 33 segundos um lance de gênio do Mané.

Novamente o Brasil chegava ao terceiro jogo da fase de grupos correndo o risco de ser eliminado, e dessa vez o adversário, a Espanha, saiu na frente. Mas o Brasil contava com o Mané para desmontar a defesa espanhola. Aos 41 minutos do segundo tempo, após uma grande jogada, Garrincha cruzaria para Amarildo, substituto de Pelé, virar o jogo.

Garrincha contra a Espanha.

Nas quartas de final o Brasil enfrentaria os inventores do futebol, os ingleses. O que o Garrincha fez nesse jogo foi incrível, talvez tenha sido a melhor atuação da carreira dele ou até a melhor partida que qualquer atleta já jogou em uma Copa do Mundo. O placar foi 3 a 1 para o Brasil, com dois belos gols de Garrincha, tendo o outro gol sido marcado por Vavá, no rebote de uma cobrança de falta do Mané.

Garrincha contra a Inglaterra. Simplesmente incrível.

Na semifinal seria a hora de enfrentar os anfitriões do torneio, o Chile. Garrincha deu outro show, marcou mais dois gols, sofreu um penalti (não marcado) e cobrou o escanteio que resultou no terceiro gol do Brasil. Apesar da grande atuação, o Mané acabou sendo expulso por dar um pontapé em um adversário.

 
Outra grande atuação do gênio das pernas tortas.

Após esse jogo o jornal chileno "El Mercurio" exibiu uma manchete perguntando "De que planeta Garrincha veio?" Mas havia um problema: Mané não poderia jogar a final contra a Tchecoslováquia, pois havia tomado um cartão vermelho no jogo anterior. Após um julgamento um tanto quanto estranho a FIFA permitiu que Garrincha atuasse na final. 

Posto que não jogou mal, o gênio das pernas tortas entrou em campo com uma febre de 39 graus e acabou não sendo tão produtivo como nos dois jogos anteriores. Todavia sua simples presença em campo já era suficiente para que vários adversários estivessem marcando-o e isso abria mais espaço para outros brasileiros. O resultado foi a vitória por 3 a 1, trazendo o bicampeonato para o Brasil. Obviamente Garrincha foi eleito o melhor jogador da Copa.

Lances de Garrincha na final de 1962.

De volta ao Brasil o Mané venceria, ainda em 1962, o Campeonato Carioca pela terceira e última vez, tendo uma atuação marcante na final, um três a zero contra o Flamengo, dois gols dele. Esse jogo foi um divisor de águas na carreira de Garrincha, ao ponto de muitos especialistas afirmarem que essa foi a última grande atuação dele. 

A partir daí sua carreira declinou por causa de seus problemas com o álcool e de uma lesão no joelho que continuou comprometendo o desempenho do Mané mesmo após uma cirurgia, a qual foi submetido em 1964 (nesse ano ele venceu o Torneio Rio-São Paulo). Em 66 Garrincha, após 614 jogos e 245 gols pelo Botafogo, foi para o Corinthians, mas acabou tendo uma passagem decepcionante, com dois gols em treze jogos. Apesar disso ele ainda jogaria a Copa do Mundo pela terceira vez em 1966.

No primeiro jogo desse mundial o Brasil venceu a Bulgária por 2 a 0, com gols de Pelé e Garrincha, ambos de falta. Seria o último gol do Mané pela seleção.

Garrincha contra a Bulgária. Ele não era mais o mesmo, mas teve alguns bons momentos e marcou um golaço.

Pelé novamente se machucou, o Brasil chegou ao segundo jogo contra a Hungria sem o Rei e acabou derrotado. Foi a única derrota de Garrincha pela Seleção em 60 jogos (50 oficiais), tendo ele marcado 17 gols (12 em partidas oficiais).

Lances de Garrincha contra a Hungria. Apesar de não estar bem fisicamente ele criou alguns problemas contra um adversário forte.

Pela terceira vez seguida o Brasil chegava ao último jogo da fase de grupos com o risco de ser eliminado, mas dessa vez não tinha o Mané em campo. A Seleção acabaria eliminada no jogo contra Portugal e essa seria a nossa pior campanha em Copas.

Após o mundial de 1966 Garrincha teve passagens rápidas por alguns clubes como Flamengo e o Red Star (França), até encerrar sua carreira no Olaria. Nesse clube marcou seu último gol contra o Comercial em 1972. Em 1973 Garrincha recebeu uma merecida homenagem, um jogo de despedida com a seleção brasileira, que enfrentou a Seleção do Mundo e venceu por 2 a 1.

Mané aos 40 anos se despede do futebol. Mesmo longe de seu auge ainda teve alguns lances divertidos.

Garrincha faleceu pobre em 20 de janeiro de 1983 com apenas 49 anos de idade por causa de seus problemas com o álcool.. Um dia depois Carlos Drummond de Andrade escreveria o trecho abaixo a seu respeito.

"Se há um Deus que regula o futebol, esse Deus é, sobretudo, irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incubidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios. Mas, como é também um Deus cruel, tirou do estonteante Garrincha a faculdade de perceber sua condição de agente divino. Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam e não há outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo, que nos alimente o sonho."

Garrincha cercado por oito adversários. Pobres marcadores.

Garrincha, o Charles Chaplin do futebol, o anjo das pernas tortas, o eterno Mané. Um dos maiores futebolistas que o mundo já produziu. Certa vez li a frase com a qual concluo esse post.

"Pelé e outros aprenderam a jogar futebol, Garrincha nasceu sabendo." 







Um comentário:

  1. Companheiro, assisti seu blog e todos os videos que você postou. Vi que você como eu acredita que o velho Mané garrincha é e sempre foi o melhor de todos. Mas tenho umas coisas a falar. Primeiro: Ele nunca foi de Pau Grande, área Serrana do Rio, Mané era de uma área do interior do Pernambuco, sim, de uma família do interior de Pernambuco, indígena, que veio pra serra carioca pra trabalhar numa empresa inglesa têxtil, em Pau Grande/RJ ao lado de Friburgo. E se você amigo e fã do Mané Garrincha como eu sou, vá até a rua Julio Cesar em Bangu/RJ, rua onde Mendonça pai e filho ídolos do Botafogo moravam, e você vai conhecer de verdade o fim do grande Mané Garrincha, em Bangu vivendo com a viúva do grande Jorginho Carvueiro, ex grande craque do bangu, na rua Estampadores em Bangu/RJ era onde o grande Mané Garrincha terminou seus dias. Procura o final dos dias dele na Rua Julio Cesar em Bangu/RJ. Papo reto de um FÃ incondicional do mané e pra você saber, naquela época, a Rua Julio César inteira era botafoguense, por ele e pelos Mendonças que moravam na rua.

    ResponderExcluir